Resumo

Considerações sobre a produção científica e as raízes da Pós-graduação

Ao abordarmos o tema, gostaríamos inicialmente de tecer algumas considerações acerca da instituição onde atuamos, cuja orientação central é a produção de conhecimento científico, ou seja, a Universidade. Ela tem por meta o desenvolvimento do “novo”, da descoberta de rumos e busca de procedimentos, interagindo desta maneira no sistema de Ciência e Tecnologia, numa sociedade em permanente transformação. Ensino, pesquisa e prestação de serviços à comunidade nas áreas associadas correspondem bem ao espírito das concepções de Humboldt, claramente aplicadas à Universidade de Berlin já no inicio século XIX.

GOLDEMBERG (1994) discute que essas idéias já foram incorporadas e refletem os objetivos da universidade, constando de maneira clara nos estatutos da maioria das instituições brasileiras de ensino superior público. Discute ainda o Autor sobre a importância da exigência da titulação acadêmica em todas as áreas e o acompanhamento da atividade científica durante toda a carreira dos professores, impedindo a acomodação e contribuindo para o incremento no dinamismo e criatividade da universidade. Seguramente o cumprimento desta tarefa, que transformou a universidade em instituição academicamente produtiva, deve-se na sua origem à estruturação e desenvolvimento do sistema da pósgraduação “stricto sensu”. Portanto, entre as funções da pós-graduação, destacaríamos que não basta a universidade formar os melhores profissionais; ela tem que apresentar alto rendimento na pesquisa qualificada e competitiva. Desta maneira, entendemos que a primeira vocação ou orientação da universidade é a pesquisa, ou seja, a produção do conhecimento científico e a inovação tecnológica.

Em acordo com CLARO (1998), a atividade científica divide-se em experimental e teórica. O cientista teórico maneja primariamente modelos e os símbolos em que eles se exprimem, enquanto o cientista experimental questiona diretamente a natureza. São atividades complementares, realizadas em permanente diálogo uma com a outra. Quando um experimento não concorda com a teoria, é necessário não apenas revisar a teoria, mas também o próprio experimento, pois não poucas vezes eles são realizados ou interpretados de forma errônea, comenta o Autor. LOPES (1991), é da opinião que deveríamos lembrar que a questão crucial não seja, talvez, a de ciência básica “versus” ciência aplicada, mas a de assegurar a transferência entre esses dois compartimentos mais do que querer dimensionálos. Afirma ainda o Autor que a questão da pesquisa básica “versus” pesquisa aplicada ou pesquisa acadêmica “versus” pesquisa profissionalizante não é nova e certamente sua discussão não está esgotada.

SALA (1991) preocupou-se em estudar modelo que determinasse conceitualmente a relação de dependência entre pesquisa básica e pesquisa aplicada, estabelecendo desta maneira a intrínseca e dependente compreensão entre Ciência e Tecnologia no complexo processo de Pesquisa e Desenvolvimento. O Autor descreve as etapas do processo de pesquisa e desenvolvimento no contexto científico e tecnológico, ou seja, ”Das leis naturais ao produto”, como muito bem define SALA (1991) e que compreende portanto, o processo Pesquisa e Desenvolvimento, segundo as diferentes formas e natureza de abordagens, aplicando-se inclusive para a inovação tecnológica. Estas etapas são: pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento básico e desenvolvimento de produto.

Genericamente, no Brasil, o conceito de universidade de pesquisa como paradigma institucional ainda é incipiente, entretanto a expectativa da sociedade de geração do conhecimento científico e inovação tecnológica concentra-se na universidade. Neste contexto, poderíamos caracterizar esta como sendo a sua principal tarefa, ou seja, um ponto central que representa o grande desafio nos caminhos da modernização institucional: a busca de competitividade na integração do conhecimento científico e da capacidade técnica produtiva, determinando relações mais integradas e dependentes entre universidade e sociedade (ARMELIN, 1995; COHEN,1995).

É inegável a importância do conhecimento para geração de riqueza e bem-estar social, em acordo com BAFFA FILHO e SILVA (2001), parece que o futuro está atrelado ao grau de desenvolvimento científico e tecnológico que conseguirmos estabelecer. Referem-se ainda esses Autores ao sistema de Ciência e Tecnologia como uma verdadeira alavanca para o desenvolvimento social, como uma questão de soberania nacional, na liberdade de pesquisa, na transferência de conhecimentos para o setor produtivo, entre outros importantes desafios quando se trabalha nas fronteiras do conhecimento.

Já se afirma que o conhecimento será a moeda do século XXI (BENETTI, 1999). Cabe, portanto, neste momento, uma reflexão sobre o papel e a ação dos principais agentes produtores e aplicadores do conhecimento, assim, reconhecemos inicialmente quais são estes agentes, entre os quais destacamos: universidades, governos, empresas, entre outros. As universidades brasileiras, apesar de muitos esforços empreendidos, ainda não avançaram o suficiente para aumentar significativamente a presença da Ciência e da Tecnologia nacional no cenário mundial. As causas vão desde a falta de recursos e de motivação, à resistência a mudanças internas, fatos que culminam com o entendimento de que nosso conceito de universidade de pesquisa ainda é incipiente.

Outro aspecto a considerar nesta análise institucional refere-se aos agentes que dinamizam e mantém o sistema capaz de intervir, relacionar, modificar e adaptar novas aprendizagens. Estes agentes são a essência do desenvolvimento científico das instituições e, seguramente, é nesta atividade criativa dos pesquisadores que encontramos toda a fundamentação e significado de uma função social que precisa ser relevante, competitiva e produtiva, expressões estas que revelam toda dependência de uma cultura social em organizar-se cientificamente (SCHENBERG, 1991).

Da atividade criativa individual para a organização de projetos institucionais, projetos integrados e/ou temáticos, temos a necessidade de coordenação de grupos com abordagem multidisciplinar e conceitos interdisciplinares, fato este que encerra a própria natureza do conhecimento em Educação Física e Esporte. Estas reflexões implicam em sistematizações de atividades e funções no contexto social, cujo desenvolvimento implica em planejamentos de programas-meta a curto, médio e longo prazo.

Ainda com a preocupação central de embasar o sistema da pós-graduação, na qualidade e no alto desempenho científico-acadêmico, é que se busca a melhor capacitação através da titulação universitária dos docentes participantes do sistema. Desta maneira pode-se responder as necessidades de uma sociedade cientificamente organizada e que busca na universidade uma parceria que seja produtiva e traga respostas específicas, baseadas na qualidade e eficiência de seu desempenho. A real dependência neste processo, e que caracteriza a contribuição do sistema de pós-graduação, pode ser destacada através da capacitação e titulação do docente, principal artífice do sistema universitário produtivo.

Portanto, este conceito de universidade como paradigma institucional para o desenvolvimento da pesquisa científica, concentra-se no desenvolvimento de ações da pós-graduação para a geração do conhecimento científico-acadêmico. Neste contexto é que reiteramos a necessária capacitação do docentepesquisador, figura central deste processo, que representa o grande desafio nos caminhos da pósgraduação, em busca da competitividade na integração do conhecimento científico e da capacidade acadêmica produtiva, determinando, assim, relações mais integradas e dependentes, para um ensino moderno e de conseqüentes e duradouros compromissos com a sociedade cientificamente organizada.

Através desta capacitação e titulação dos docentes envolvidos no sistema de pós-graduação, preocupação que deve ser permanente, constatamos a própria necessidade de buscar a profissionalização da pesquisa em Educação Física e Esporte no sentido de se estabelecer as bases fundamentais de fontes de produção do conhecimento e termos, assim, um sistema de referência para o esperado estabelecimento científico-acadêmico da área do conhecimento. Desta maneira, através da capacitação acadêmica dos docentes do programa, busca-se a ativação e a agregação da pósgraduação a núcleos de investigação, determinando um maior relacionamento com as atividades de pesquisa científica. Portanto estamos convictos, em acordo com LOPES (1991), de que “Sem pesquisa não há pós-graduação”. Finalmente, através da valorização da capacitação acadêmica, os programas de pós-graduação poderão estruturar-se intencionalmente como centros de referência para o incremento da produção do conhecimento científico-acadêmico em Educação Física e Esporte.

Acessar