Resumo

Um aspecto importante do comportamento motor de adultos com síndrome de Down (SD) é a menor estabilidade no controle postural comparado a seus pares neurologicamente normais (NN). O sistema de controle postural baseia-se no acoplamento dinâmico entre informação sensorial e ação motora para controlar a postura. Sendo assim, uma pergunta que surge é se adultos com SD relacionam informação sensorial com ação motora da mesma forma que seus pares NN. Buscando esclarecer esta questão, o objetivo deste estudo foi investigar o acoplamento entre informação sensorial e oscilação corporal em adultos com SD e analisar a influência da informação sensorial na ação motora dessa população. Vinte adultos com SD (25,8 ± 4 anos) e vinte adultos NN (25,6 ± 4 anos) participaram do estudo. Estes participantes mantiveram a posição em pé no interior de uma "sala móvel", olhando para um alvo posicionado 1m a frente deles, na altura dos olhos. Dois experimentos foram realizados envolvendo diferentes formas de movimentação da sala. No Experimento 1, a sala foi movimentada continuamente (para frente e para trás), durante 60 segundos, nas freqüências de 0,1, 0,2 e 0,5 Hz e amplitudes de 1, 0,5, e 0,2 cm, respectivamente. A velocidade de pico foi mantida em 0,6 cm/s para todas as freqüências e amplitudes de movimento. Neste experimento, foram realizadas 10 tentativas, sendo uma sem movimento da sala e três tentativas em cada freqüência de movimento da sala. No Experimento 2, a sala foi movimentada discretamente, com um único movimento, aproximando ou afastando do participante. A sala foi movimentada durante 2 segundos com amplitude de 2,6 cm/s e velocidade média de 1,3 cm/s. Cada tentativa durou 20 segundos, sendo os primeiros 4 segundos sem movimento da sala, 2 segundos com movimento e os últimos 14 segundos sem movimento da sala novamente. Neste experimento, foram realizadas 6 tentativas, 3 com a sala aproximando e 3 com a sala afastando do participante. O movimento da sala e a oscilação corporal dos participantes foram obtidos através do sistema OPTOTRAK. Nas condições com movimento da sala (com informação sensorial destacada), adultos com SD e NN apresentaram comportamento similar, apenas com SD apresentando maior variabilidade na oscilação corporal. Isto indica que adultos com SD acoplam a oscilação corporal à informação sensorial da mesma forma que seus pares NN. Mais ainda, este resultado indica que funcionalmente o sistema de controle postural de adultos com SD é similar ao de adultos NN, porém, com mais ruído envolvido na dinâmica de oscilação corporal. Por outro lado, os resultados referentes às condições sem movimento da sala (sem informação sensorial destacada) mostraram que adultos com SD oscilavam mais que seus pares NN. Isto indica que quando nenhuma informação sensorial está destacada indivíduos com SD têm dificuldade para captar aquela mais importante para realizar a tarefa motora. Com base nesses resultados, sugerimos que a maior quantidade de ruído inerente ao sistema de controle postural de adultos com SD faz com que estes indivíduos apresentem maior variabilidade no acoplamento entre informação sensorial e ação motora e, ainda, tenham dificuldade para captar a informação sensorial relevante para realizar a tarefa, o que conseqüentemente, faz com que estes indivíduos oscilem mais que seus pares NN quando esta informação sensorial não está destacada.

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