Resumo

Este texto apresenta uma reflexão sobre o processo metodológico que iniciei por ocasião de pesquisas que venho fazendo há 12 anos sobre a socialização das crianças e dos jovens de níveis diversos de escolarização. A preocupação de me liberar do "adultocentrismo", que muitas vezes impede de aceder às categorias específicas da experiência social infantil, levou-me a utilizar instrumentos de pesquisa que escolhi múltiplos e adaptados a atores socais em toda a extensão da palavra. Crianças e jovens não se comportam como adultos acabados, são, porém, tanto quanto estes, desejosos de analisar e de redefinir no seu próprio interesse as coerções situacionais sobre eles exercidas individualmente ou coletivamente. Para entender as tribulações que assim enfrentam como o sentido que eles lhes dão, utilizei, de modo geral, entrevistas inspiradas em métodos etnográficos, mas criei também cenários a partir dos quais crianças podem exprimir perfeitamente conceitos, já bem elaborados, sobre a justiça e a vida pública. O estudo de incidentes-chave ou de "negócios" levando-os a enfrentar atores adultos permitiu-me igualmente apresentar algumas propostas sobre as diversas maneiras que eles têm de viver juntos em diferentes momentos da escolaridade. Enfim a importância dada ao objeto do trabalho escolar, como a redação de textos "longos", permitiu-me abordar a relação aos "saberes" de um ponto de vista que a narração da experiência, somente, oculta de modo geral. Em todas essas pesquisas, esforcei-me igualmente a não opô-las; tentei, de preferência, conciliar pontos de vista qualitativos com tratamentos quantitativos na esperança de ter acesso simultaneamente ao significativo e ao representativo.