Resumo

A proposta deste estudo é investigar o processo de criação e suas possíveis aplicações nas expressões rítmicas, bem como as suas correlações com o processo de auto-organização do movimento humano no contexto artístico. Consideramos, como hipótese de trabalho, que para um indivíduo (ou grupo) poder criar, mudanças organizacionais devem ocorrer de forma expontânea e auto-organizada na sua ação. Esse processo pode manifestar-se a partir da dinâmica da interação entre elementos distintos, que passam a manter relações de interdependência entre si, sem a presença determinante de centros, líderes e hierarquias absolutas. Inicialmente discutimos algumas linhas divergentes de pensamento sobre a possibilidade de uma lógica da descoberta e em seguida, apresentamos a lógica da auto-organização como um encaminhamento do processo criativo nas artes, mais especificamente, na dança. Argumentamos que o contexto cultural tem importante papel no processo de criação, refletindo um realidade que pode apresentar especificidades correspondentes aos aspectos expressivos dos indivíduos. Enfatizamos o papel do acaso como elemento relevante na estrutura e constituição da expressão criativa humana, bem como as noções de ordem, desordem e informação, elementos estes que formam um conjunto básico para a manifestação da auto-organização e da criação. A seguir, caracterizamos a atividade física frente à complexidade dos fenômenos humanos e o seu desencadeamento num contexto fragmentado. Contrastamos este tipo de atividade com a cultura física, entendida como manifestação da integração do ser humano ao seu movimento criativo. Finalmente, ilustramos o processo de auto-organização na dança fazendo um paralelo entre o balé clássico, que mantém padrões estabelecidos de organização, e o método de Laban para o estudo do movimento humano. Esse método enfatiza a movimentação espontânea, integrando a expressividade e a criatividade como elementos importantes na expressão corporal. Julgamos que o processo criativo nas artes pode manifestar-se pela busca de harmonia entre indivíduos que interagem, dinamicamente, com o fluxo de informação que os circundam e a aleatoriedade (ruído) inevitável na sua história evolutiva. O estudo da auto-organização permitiu-nos delinear um conjunto de relações espontâneas, do tipo cooperação, competição, ajuste, entre outros, que estão presentes no processo criativo. Os processos de auto-organização, desenvolvimento e controle de movimento, manifestados também nas concepções coreográficas e lúdicas do movimento, permitem compreender a criação e o desenvolvimento de expressões artísticas.

Acessar