Resumo

Introdução: apesar dos esforços em minimizar os problemas do julgamento subjetivo, o maior problema de um campeonato de surfe sempre foi o julgamento. Atualmente existem critérios de julgamento com limitações na maioria dos esportes estéticos, havendo poucas medidas que justifiquem a pontuação indicada pelos árbitros. Pelo fato do julgamento da performance do surfista ser realizado quase que em tempo real, e em uma bateria até quatro atletas são avaliados simultaneamente por todos os árbitros, este esporte possui vários fatores que atuam na construção de uma nota, dentre eles estão a memória, a concentração e a capacidade de raciocínio, os quais se tornam tão importantes quanto os critérios de julgamento, o conhecimento e a experiência prática do árbitro na modalidade. Desse modo, este estudo objetivou analisar se os critérios de julgamento de surfe atribuídos pela ASP estão sendo utilizados pelos árbitros. Método: foram analisadas 164 ondas surfadas por 21 surfistas de nível internacional em duas etapas brasileiras do ASP WT. As variáveis analisadas foram: qualidade do drope, qualidade da finalização da onda, frequência de desequilíbrio nas manobras (FD), percentual de manobras realizadas na parte crítica da onda (MPC), variedade de manobras (VM), execução de cada uma das manobras principais (rasgada, batida, cut-back, floater, tubo, aéreo, 360°), posição do surfista na prancha em relação à onda (frontside ou backside) (PSPO), altura da onda, duração da onda e frequência de manobras (FM). Para o registro das imagens, foram utilizadas duas câmeras filmadoras digitais (Sony® MVR-V1U e Panasonic® PV-GS120) e um tripé, e as notas das ondas foram obtidas por meio da internet. Foi utilizada a estatística descritiva, o programa SPSS® 11.5 para Windows®, e os testes: Kolmogorov Smirnov, teste ‘t’ de Student Independente, Anova (one-way), post hoc de Tukey e correlação de Pearson (p≤0,05). Resultados: foram observadas diferenças significativas entre as notas das ondas com dropes ruins, bons e excepcionais (ASP WT 2007: p<0,001; ASP WT 2010: p=0,006),

sendo que as ondas com dropes ruins apresentaram notas mais baixas do que as ondas com dropes bons e excepcionais, e as ondas com dropes de boa qualidade apresentaram notas mais baixas que as ondas com dropes excepcionais no ASP WT 2007. No ASP WT 2010, as ondas com dropes ruins apresentaram notas mais baixas do que as ondas com dropes excepcionais. Diferenças significativas foram encontradas entre as notas das ondas finalizadas de maneira controlada, com queda na principal seção da onda (PSO), e com queda após a PSO em ambas as competições (p<0,001), sendo que as ondas finalizadas com queda na PSO apresentaram notas mais baixas do que as ondas finalizadas de maneira controlada ou com queda somente após a PSO. Foi observada correlação significativa entre a nota e as variáveis: FD (r=-0,30), MPC (r=0,68), VM (r=0,62), FM rasgada (r=0,51), FM batida (r=0,43), FM floater (r=0,23), FM cut-back (r=0,27), altura (r=0,23), duração (r=0,76) e FM (r=0,79) para o ASP WT 2007; MPC (r=0,34), VM (r=0,70), FM rasgada (r=0,46), FM batida (r=0,51), FM cut-back (r=0,30) FM aéreo (r=0,30), duração (r=0,71) e FM (r=0,70) para o ASP WT 2010. Não foram verificadas diferenças significativas entre as ondas surfadas com diferentes PSPO (frontside e backside) (ASP WT 2007: p=0,536; ASP WT 2010: p=0,464). Conclusões: todos os critérios utilizados pelos árbitros de surfe que foram avaliados neste estudo se correlacionaram significativamente com as notas no ASP WT 2007. Já no ASP 2010, com exceção do controle nas manobras (número de desequilíbrios), todos os demais critérios se correlacionaram significativamente com as notas. Indicando que os árbitros estão utilizando os critérios de julgamento (o surfista deve surfar na parte mais crítica da onda; executando manobras principais; variar as manobras; realizar o drope com qualidade e controle; não se desequilibrar durante a execução das manobras; finalizar a onda com controle). Além disso, pode- se constatar que a altura da onda, a duração do surfista sobre a onda e a frequência de manobras (FM) são variáveis que influenciam indiretamente nas notas dos árbitros. 

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