Resumo

Investigar as relações estabelecidas na escalada esportiva em ambientes artificiais foi o objetivo deste estudo, tendo como ponto de partida para a análise o muro de escalada do GEEU (Grupo de Escalada Esportiva da Unicamp), localizado na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas. Esta pesquisa refere-se a uma investigação na área de estudos do lazer privilegiando uma abordagem sociocultural, respaldada no referencial da análise cultural proposta por Geertz (1989). A natureza desta pesquisa é qualitativa e foi desenvolvida, complementarmente, entre pesquisa bibliográfica e pesquisa empírica, com a utilização de entrevistas semi-estruturadas e de observação participante como recursos para obtenção dos dados. Foi possível detectar a existência de uma sociabilidade urbana no muro de escalada. Os membros do grupo se organizam, tentando conciliar estudos, escaladas e todas as atividades diárias, mantendo relações afetivas e dando sentido ao muro - lugar comum entre eles. Isso os diferencia e os toma singulares. Esses ambientes artificiais surgem como formas de conquista de espaços, tratando-se de uma opção de escolha por um tipo de comportamento próprio de uma camada social. Os vínculos, as relações de amizade, aí estabelecidos, são mais fortalecidos e duradouros, justamente pela relação mais direta estabelecida com a prática e com os outros escaladores. O GEEU, assim como outros grupos de escalada urbana que se formam, a cada dia, faz parte de um movimento de resistência frente ao processo de racionalização e à desordem das cidades, manifestando inovação e criatividade, preservando e promovendo a sociabilidade, como reação ao individualismo. Na dinâmica do muro de escalada, os corpos escaladores manifestaram inúmeras expressões carregadas de sentidos, conduzindo a inúmeras interpretações. Os corpos escaladores mostraram que o mesmo corpo que é supervalorizado, repleto de sentidos narcisista e hedonista pode, também, ser notado não só por sua aparência, mas, da mesma forma, ser um lugar de sedução e fascínio, criando laços, celebrando prazer e criatividade, por intermédio de acordos estéticos. Os aspectos técnica e força, na escalada esportiva, são tão requisitados quanto leveza e delicadeza, independentemente do gênero. O corpo escalando, liberto em movimentações criativas, tensas, sublimes e sensíveis, repentinas ou planejadas, expressa sua subjetividade em um diálogo constante consigo mesmo, com outros corpos e com o aparato tecnológico. Este, por sua vez, apresenta-se como facilitador da prática, mediando o corpo e a atividade. A tecnologia, portanto, não é entendida apenas em seu aspecto funcional, mas também cultural, como uma lógica sensível aos fascínios, desejos e necessidades culturais. A aventura, nos muros artificiais de escalada, não se liga ao desconhecido e ao perigo, contrariamente a isso, é vivida com base nos acontecimentos anteriores e posteriores à atividade; seus limites são determinados com referência a eles, sob segurança calculada e completamente integrados ao cotidiano de tarefas, deveres e trabalhos acadêmicos dos escaladores. A experimentação lúdica do corpo, em suas formas genuínas, é bastante perceptível no muro, vivendo-se, com isso, novas emoções, dando diferente conotação às possibilidades de risco e perigo (praticamente inexistentes) e às sensações de prazer e medo. Apesar do tempo de lazer dos escaladores atrelar-se ao tempo das obrigações acadêmicas e do trabalho, a lógica dessas duas dimensões não estão igualmente marcadas pela produtividade e/ou rendimento. O muro não é uma mera etapa. Nele manifesta-se um ritual, permeado pela ética do grupo e expresso por seu caráter inclusivo. Foi possível notar que os comportamentos, gostos e estilos dos escaladores do GEEU fazem parte do contexto das inúmeras transformações na cultura urbana das grandes cidades de nossa contemporaneidade. Os muros de escalada, espalhados pelos diversos cantos da cidade, surgem nessa perspectiva: enquanto formas de inovação e expressão cultural contemporânea, solidificados por uma política de amizade 

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