Resumo

Este trabalho discute a Educação Física nas séries iniciais do 1º grau de uma escola pública, em Minas Gerais. Para empreender essa discussão, percorre e aproxima quatro universos a partir do tema da concepção de Educação Física por eles determinada. Tais universos são constituídos partindo das origens históricas da Educação Física enquanto um componente curricular, de sua legislação em vigor, das recentes políticas públicas para a Educação Física na escola e de sua prática no universo de uma escola pública. Em suas origens históricas, na Europa e no Brasil, problematizaram-se as relações estabelecidas entre a introdução da Educação Física na escola e o modo de produção capitalista. A Educação Física, sob influência dos médicos higienistas e dos militares, emerge com a função social de adestrar mão-de-obra para o trabalho A sua legislação em vigor incorpora as determinações de suas origens históricas, e apresenta uma concepção de Educação Física que a entende como um dos fatores básicos da educação nacional que, de forma recreativa, deve preparar física, moral, cívica, psíquica e socialmente as crianças para o mundo do trabalho Ao se abordarem as políticas públicas do Ministério da Educação e da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, definidas entre 1982 e 1990, foi possível distinguir três concepções de Educação Física para as séries iniciais: a concepção psicomotora-desenvolvimentista, a psicomotora e a histórico-desenvolvimentista. A segunda foi a única a conseguir materialidade na Educação Física da escola pesquisada, evidenciando a influência da Psicomotricidade na Educação Física que se realiza nessas séries. O universo da Escola Estadual Minas Brasil (a escola pública pesquisada) concebe e legitima uma Educação Física que, ao mesmo tempo, aproxima-se e se distancia dos universos anteriores, incorporando, transcendendo e refazendo as determinações da História, da legislação e das políticas públicas detectadas. A Escola determina o lugar da Educação Física em função das próprias necessidades objetivas e subjetivas no interior de sua prática pedagógica. Ela desempenha papéis de destaque no processo formativo da Escola, ainda que, paradoxalmente, seja realizada esporádica e assistematicamente, em termos de aulas efetivamente dadas. Assume, assim, um sentido subjacente em que basta a invocação de seu nome para se conseguirem os efeitos dela desejados. Nesse sentido, a Educação Física está presente, destacadamente, no processo de ensino-aprendizagem da Escola, legitimada por sua utilidade na disciplinarização e aculturação, na preparação e na recuperação das crianças para mantê-las nesse processo No mesmo espaço social em que essa concepção de Educação Física é realizada, as crianças que freqüentam a Escola realizam a sua vida de movimento: jogam futebol e queimada, correm do pegador, pulam bancos, sobem em árvores. Chamam e clamam pela Educação Física. Por qual Educação Física?

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