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E a modernização voltou ...(sobre a nova diretoria do Flamengo)

Por Luiz Carlos Ribeiro

Arte Zuca Sardan

O entusiasmo do jornalista Juca Kfouri em relação à eleição da nova diretoria do Flamengo, ocorrida em três de dezembro último, dá alguma mostra de como o conceito de “modernização” tornou-se banal no futebol brasileiro.

Juca foi um dos primeiros jornalistas profissionais a levantar a bandeira da modernização do nosso macunaímico futebol.

A conjuntura era o final dos anos 80 quando alguns diretores de clubes, aproveitando a crise financeira e política que passava a CBF, resolveram organizar por conta própria o campeonato brasileiro e, por extensão, fundar uma liga independente, que ficou conhecida como Clube dos 13. Na ocasião Juca era diretor de uma das mais influentes mídias esportivas, a revista Placar (Grupo Abril) e não apenas apoiou a “Copa União”, como via na embrionária liga um sinal de rompimento com a arcaica e corrupta CBF, bem como a perspectiva de alcançar a desejada modernização do futebol brasileiro.

Quando em 2011 uma nova crise atingiu no Clube dos 13 – que acabou resultando no seu fim trágico – Juca Kfouri (em tom melancólico, como exigia a ocasião), vaticinou a morte da modernidade que a liga, afinal, nunca havia completada. O título de sua crônica era emblemático: “Nascimento e agonia do Clube dos 13”.

“Conto aqui o que vi, e poucas coisas vi tão por dentro em minha vida de jornalista como o nascimento do Clube dos 13 e da Copa União. Como vi o começo lento e gradual de sua decadência. Curiosa e dramaticamente, sua implosão se dá quando parecia ressurgir, embora, agora, pareça mais que tenha sido aquela famosa melhora do doente antes de morrer”.(1)

Eduardo Bandeira de Mello

Agora, quando eleita a nova diretoria do Flamengo, reaparece o velho discurso da modernidade. O presidente eleito, Eduardo Bandeira de Mello (ex-diretor BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento), montou uma equipe composta de pesos pesados do empresariado nacional. De acordo com o noticiado pela imprensa, nomes como Flavio Godinho, executivo da MPX; Rodolfo Landim, ex-executivo da BR Distribuidora e OGX; Luiz Eduardo Baptista, presidente da Sky e Carlos Geraldo Langoni, ex-presidente do Banco Central do Brasil serão os arquitetos da neomodernidade flamenguista.

Perguntado em entrevista ao LANCE!Net sobre qual o carro-chefe da sua proposta, Bandeira de Mello afirma entusiasmado:

“É a equipe que nós temos e a proposta de modernidade e foco na gestão. Queremos a profissionalização do clube. Temos uma equipe de executivos bem-sucedidos na vida empresarial. Ao anunciar um vice-presidente eu me sinto como se fosse o Presidente da República anunciando um ministro. Esse nosso time poderia compor um ministério da República ou secretariado importante. O Flamengo nunca teve em sua administração pessoas do calibre, da competência e da credibilidade desses vice-presidentes que estamos anunciando aos poucos”.(2)


Sobre a dívida financeira que acumula o clube, Bandeira de Mello não é menos modesto: “Nosso homem da reestruturação da dívida será o professor Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e que lidou com a dívida externa na época mais barra pesada que remonta às negociações com o FMI e o Clube de Paris.”

Sobre essa postura de modernidade e profissionalização, Juca é mais reticente que entusiasmado. Afinal, não seria esse apenas mais um discurso?

“Eduardo Bandeira de Mello é o nome da nova esperança da maior torcida do Brasil, a do Flamengo. (...) Bandeira de Mello, ex-diretor do BNDES, ganhou com facilidade com 1.414 votos do total de 2.675 eleitores, e promete profissionalizar o Flamengo, com apoio do ídolo Zico. Tomara que cumpra e que não seja mais uma decepção, como a própria Patrícia Amorim” (...) (3)

De forma diversa, chama atenção o entusiasmo de um personagem chave nessa curta e mal-aventurada modernização do futebol brasileiro, o empresário e escritor da área de marketing, João Henrique Areias:

“As entidades esportivas brasileiras (clubes, federações e confederações) precisam rever e modernizar seus sistemas de gestão para fazer frente aos novos desafios da indústria do esporte. Profissionalização, boa governança, credibilidade, são mais que atributos, são fatores críticos de sucesso para o desenvolvimento do esporte nacional.

Por esta razão, não tive dúvidas em apoiar e ajudar na coordenação do Eduardo Bandeira de Mello, de forma voluntária.

Ele e o grupo formado por empresários de reconhecida competência, são uma benção não só para nosso Flamengo, mas com capacidade de influenciar e modificar usos e costumes viciados do nosso esporte”.(4)

Arte Zuca Sardan

Areias, para quem não lembra, foi figura decisiva, anos de 80, na construção do sistema de venda dos jogos para as redes de TV, em especial a Rede Globo. Era uma parceria que fazia parte do pacote da modernização, pois teoricamente possibilitaria aos clubes aumentar suas rendas e sair da miséria e do endividamento.

Desse então, muita coisa mudou, mas a divisão entre o arcaico e o moderno continua uma linha tênue e quase invisível. Os ventos que sopram da CBF, sob a presidência de José Maria Marin, e as promíscuas relações entre público e privado, envolvendo os gastos com Copa de 14, entusiasmam menos ainda. Nesse sentido, acompanho o ceticismo de Juca Kfouri.

(1)    Folha de S.Paulo. 1º mar. 2011. Disponível em: <http://blogdojuca.uol.com.br/2011/03/nascimento-e-agonia-do-clube-dos-13/>. Acesso em 13 abr. 2011
(2)    http://www.lancenet.com.br/flamengo/Eduardo-Bandeira-Mello-time-executivos_0_817118384.html#ixzz2ECoKeSR5
(3)    UOL, 04.12.2012. Disponível em: http://blogdojuca.uol.com.br/2012/12/a-nova-esperanca-do-flamengo-e-o-novo-desafio-do-corinthians/
(4)    Areias, João Henrique. Por que votar na Chapa Azul nas eleições do Flamengo. Blog do Juca Kfouri, 30.11.2012.

NOTA: Texto com ilustração no link

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