Resumo

Os estudos sobre indisciplina e comportamentos antidesportivos nas aulas de Educação Física na escola ganham contornos variados em função de diferentes referenciais teóricos. Ao tratar desses comportamentos, o bullying tem sido reconhecido como um dos fenômenos que mais ganham destaque. Por meio de agressões físicas, verbais e de conotação moral, a ocorrência do bullying pode influenciar de diferentes formas tanto na vítima, como naquele que o comete. No presente estudo, tratamos do bullying como um comportamento relacionado com o processo de desengajamento moral, segundo o referencial teórico da teoria Social Cognitiva, proposta por Albert Bandura, em meados da década de 1980.O desengajamento moral é uma forma do agressor justificar suas ações, livrando-se da culpa e deixando de reconhecer o prejuízo causado às vítimas. Esse processo ocorre por meio de oito mecanismos: justificativa moral (JM), linguagem eufemística (LE), comparação vantajosa (CV), minimização ou distorção das consequências (DC), desumanização (DH), atribuição de culpa (AC), deslocamento de responsabilidade (DR) e difusão da responsabilidade (DiR). O objetivo do estudo foi identificar situações promotoras de bullying nas aulas de Educação Física na escola, bem como, mensurar os mecanismos de desengajamento moral utilizados como justificativa pelos alunos. O estudo foi realizado com 80 alunos matriculados no Ensino Fundamental - ciclo II de ambos os sexos e com idade entre 10 e 14 anos, de duas escolas públicas do município de Rio Claro, São Paulo. Os dados foram coletados a partir de um roteiro de observação aplicado em 10 aulas de Educação Física para identificar situações de bullying e da aplicação de uma escala de desengajamento moral traduzida e adaptada para o contexto investigado, de 6 pontos, com índice de confiabilidade adequado ( =.88), composta por 32 itens, agrupados em 6 fatores. Resultados da observação sistemática mostraram que as principais situações promotoras de bullying nas aulas observadas foram: xingamentos (36%), caçoar doa colegas (19%), intimidação (13%), agressão física ou moral (6%), entre outras. Quanto ao nível de desengajamento moral, a média foi de 2,29 pontos e os mecanismos foram: CV (M=2,93), AC (M=2,40), não responsabilidade pelos atos - DiR e DR (M=2,21), conduta reconstrutiva - JM e LE (M=2,20), DH (M=2,11) e DC (M=2,08). Esses resultados apontam para a necessidade de se buscar estratégias que impeçam o aparecimento de comportamentos agressivos e/ou que estimulem a indisciplina, promovendo, por outro lado, a ocorrência de mais condutas pro-sociais e desejáveis nas aulas de Educação Física na escola

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