Resumo

 Neste estudo, analisamos como a sociedade moderna, em decorrência da evolução tecnológica, adquiriu maior eficácia na administração dos seus setores, especialmente quanto ao tempo livre. A divisão do trabalho, a regulação do mercado e dos recursos naturais, e o controle do tempo livre são, dentre outras, medidas eficazes nesta estrutura social, em que as condições objetivas para a liberação dos indivíduos do trabalho assalariado estão dadas e, ao mesmo tempo, interditadas. Graças aos recentes avanços tecnológicos, tal estrutura poderia proporcionar uma melhoria na vida das pessoas, libertando-as das condições objetivas imediatas e criando meios para uma outra forma de organização social; entretanto, para que o modo de produção capitalista se mantenha, as condições de efetivação dessa liberdade são administradas pelo aparelho burocrático. Neste contexto, indagamos se existe a possibilidade de o tempo livre se traduzir como resistência à administração social. A partir desta questão, dividimos o trabalho em cinco capítulos, e com a contribuição teórica de T.W. Adorno, W. Benjamin, H. Arendt, M. Weber, entre outros, reunimos algumas reflexões em torno da noção de tempo livre na sociedade administrada, apontando que o desenvolvimento das forças produtivas não tem se revertido na conquista de liberdade aos homens, inclusive no que se refere ao tempo tido socialmente como livre mas que, ao contrário, vem reforçando a cisão entre a necessidade de sobrevivência e a busca da experiência formativa autônoma. Por fim, pudemos reconhecer que o tempo livre mantém a ambigüidade evidenciada por Adorno, configurando-se como mais um espaço em que os interesses do capitalismo tardio fincam suas garras, conservando apenas utopicamente dentro de si um caráter libertador, capaz de promover a auto-reflexão crítica e a emancipação do sujeito.