Resumo

O voluntariado, na maioria dos estudos sobre o tema, está associado à caridade, filantropia e assistencialismo. Não há problema algum em o voluntariado ser relacionado a tais termos, entretanto, cabe ressaltar que os conceitos que compartilham dessa semântica escondem muitas vezes, de uma forma ingênua, o interesse de outros e até mesmo o autobenefício que está ligado à atuação voluntária. O interesse de outros, no que se refere, por exemplo, à figuração de empresas capitalistas como agentes centrais da responsabilidade social entre os seus stakeholders. E o autobenefício, por poder ser utilizado pelo indivíduo que o pratica como um atestado de nobreza, isto é, ser uma pessoa melhor, status de cidadão benevolente e cumprimento do dever cívico, cristão praticante, retorno positivo no mercado de trabalho entre outras vantagens no currículo. Dessa forma, a compreensão do voluntariado somente como caridade, filantropia, assistencialismo e outras benevolências naturaliza os modos de fazer e inventar a vida social. Isso porque, essa compreensão desconsidera que o voluntariado está configurado em um processo histórico dialeticamente interconectado a outros elementos sociais que revelam os vários interesses entre as partes envolvidas. Essa naturalização reforça uma visão reducionista sobre o fenômeno, limitando-o a uma visão romantizada que lhe concede uma roupagem nobre. Este véu da nobreza mostra apenas uma face. Assim, o objetivo desta pesquisa foi desvelar o voluntariado compreendendo suas múltiplas faces e os significados representacionais da prática, a partir dos discursos sobre o voluntariado no megaevento esportivo Rio 2016. Para tal empreitada, adotou-se a seguinte pergunta de pesquisa: Qual a produção discursiva sobre o voluntariado no megaevento esportivo Rio 2016? A investigação metodológica incluiu: análise de 13 entrevistas com voluntários olímpicos; análise de 87 postagens do grupo oficial dos voluntários em uma rede social; análise de 03 notícias retiradas do portal oficial da internet da organização do evento; e análise da Lei no. 9.608 que dispõe sobre o serviço voluntário no Brasil. Todos esses dados formaram o corpus de análise para que fosse possível realizar a análise de discurso crítica pela perspectiva tridimensional de Fairclough (2001). Como principais resultados têm-se: caracterização do voluntariado em cinco abordagens sobre como o fenômeno está sendo estudado nas ciências sociais (Abordagem Funcional para a motivação ao Voluntariado; Abordagem Gestionária do Voluntariado; Abordagem Mercadológica do Voluntariado; Abordagem da Representação do Voluntariado; Abordagem Ideológica: A crítica ao “Novo Voluntariado), e a incidência de seis argumentos que compuseram a cadeia intertextual discursiva sobre a atuação voluntária no megaevento esportivo Rio 2016 (Problemas Sociais; Condição de desenvolvimento Econômico do País, Realização do Evento, Esforço individual em prol do coletivo, Acontecimento do evento, Capacidade da Sociedade Brasileira). Fez-se necessário conceber os processos sociais que envolveram a atuação voluntária nas olimpíadas, pela via das contradições e totalidade, ou seja observou-se suas particularidades sociais, ideológicas e interdiscursivas. Ressalta-se que o voluntariado é uma temática frequente e muito significativa na experiência cotidiana brasileira, o que justifica a relevância deste trabalho.

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