Resumo

Nesta comunicação apresentarei algumas considerações de minha pesquisa de mestrado intitulada “etnografia da perspectiva torcedora sobre a troca de estádios pelo Sport Club Corinthians Paulista”, realizada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP. Nela acompanhei torcedores corintianos ao longo do ano de 2014, período em que a equipe de futebol profissional do clube deixou de disputar as partidas sob seu mando no Estádio do Pacaembu, zona oeste da cidade de São Paulo, e passou a disputa-las na Arena Corinthians, zona leste. A Arena Corinthians foi construída entre os anos de 2011 e 14, no contexto de atualização das praças esportivas brasileiras para a realização de partidas da Copa do Mundo de 2014. Localizada no bairro de Itaquera seria tanto a sede paulista no Mundial da FIFA quanto incorporada ao patrimônio físico e simbólico corintiano, encerrando a carência do clube, imputada pelos rivais ao longo de décadas, de possuir uma praça esportiva de grandes proporções. Trata-se, portanto, de um equipamento com múltiplas significações, me interessando aqui a arena enquanto novo espaço simbólico do corintianismo, sem ignorar, evidentemente, sua relação com o megaevento de 2014. Da interlocução com torcedores do Corinthians em idas a campo, realizadas nos “últimos jogos” do time no Estádio do Pacaembu e nos “primeiros jogos” na Arena Corinthians, é possível pensar uma série de transformações nos modos de fruição dos jogos e na relação de torcedores com o futebol. As mudanças físicas e estruturais propostas pelo “Padrão FIFA”, como a proximidade entre torcedores e campo de jogo e cadeiras em todos os setores, marcam diferenças entre as praças esportivas. Elas são acompanhadas por outras alterações na concepção do futebol espetacularizado, em que os ingressos para setores populares passam por significativos aumentos no preço e decréscimo na oferta, em que a compra do ingresso é subsumida ao pagamento do “sócio torcedor”, em que os espaços para a venda de produtos oficiais do clube se mesclam aos espaços para torcer, notadamente ampliando e reforçando as atuações dos torcedores enquanto consumidores. Concomitante a tais mudanças outras tantas ocorreram em relação à socialidade e a citadinidade dos torcedores, a considerar que a região da cidade a ser frequentada também mudou: novos trajetos e locais para encontros são traçados pela cidade, sendo a etnografia composta, em grande parte, pelos desafios da circulação pela metrópole. Em um plano perpendicular, por fim, apresentarei brevemente etapas metodológicas da pesquisa em que as transformações vivenciadas pelos sujeitos nos objetos da pesquisa mobilizaram mudanças e rearranjos na própria pesquisa.

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