Resumo

Esta tese pretendeu discutir como o processo de elitização dos estádios de futebol, o chamado “caso Aranha” e certo retorno da Coligay atravessaram o currículo de masculinidade dos torcedores do Grêmio que frequentam estádio. Os estádios de futebol inserem os sujeitos torcedores em diferentes pedagogias culturais. A modernização dos espaços do torcer que vem ganhando andamento no Brasil, especialmente, a partir da década de 1990, foi catalisada com a realização da Copa do Mundo no País, em 2014. Com isso, diferentes olhares foram colocados para os estádios, os torcedores e suas práticas. Normativas vindas da FIFA e de federações nacionais têm colocado em questão práticas historicamente autorizadas nos estádios de futebol. Nessa investigação procurei observar como os torcedores do Grêmio foram interpelados por esses diferentes conteúdos ao realizarem um trânsito entre o estádio Olímpico Monumental e a Arena do Grêmio. Para a construção do material empírico realizei uma etnografia na Arena do Grêmio que me permitiu discutir como o sujeito coletivo ‘torcida do Grêmio’ recebeu esses diferentes movimentos. Além disso, observei alguns ditos individuais e de que maneira eles ressoaram ou não nesse espaço. Por fim, produzi um terceiro material através de diálogos com pequenos grupos de torcedores que me permitiram perguntar mais diretamente como estes indivíduos percebiam a elitização dos estádios, a interdição de cânticos e eventuais episódios de racismo e homofobia. Essa investigação dialoga com um vasto conjunto de trabalhos na área das Ciências Humanas e Sociais que problematizam diferentes aspectos do futebol como prática de lazer e esportiva, especialmente a partir da realização dos megaeventos esportivos no Brasil, Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016. Ao mesmo tempo inova ao analisar estes fenômenos a partir de categorias do campo da Educação, no viés dos Estudos Culturais, dos estudos de gênero e da sexualidade e numa perspectiva feminista e pós-estruturalista. Em minha dissertação de mestrado (2009) procurei olhar para um currículo de masculinidade nos estádios de futebol. Voltei a olhar para o mesmo fenômeno com um afastamento temporal e espacial, uma vez que o clube em que realizei minha inserção etnográfica mudou de estádio, tendo no conceito de currículo uma centralidade analítica para examinar novamente os fenômenos que ocorrem nos estádios e o que eles poderiam me dizer sobre essas masculinidades construídas através das narrativas que ali circulam e disputam significados. É possível apontar que os torcedores se entendem em trânsito e percebem certa diferença nas formas adequadas de ocuparem o novo estádio sendo necessário algum tipo de adaptação. O processo de elitização acaba produzindo certa dicotomia entre o torcedor, representado como autêntico e popular, e o consumidor que seria alguém estranho ao estádio. A esse consumidor podem se somar outras alteridades do torcedor que poderiam incluir mulheres, crianças e homens mais velhos. Na Arena é possível visualizar uma relação em tensionamento entre o torcedor e a torcida. Ora as ações do torcedor são narradas a partir da pertença ao coletivo, ora o sujeito pode ser individualizado e a coletividade se esvazia. Ainda é muito cedo para saber o que acontecerá com esse currículo de masculinidade dos torcedores de estádio a partir da desnaturalização de algumas práticas. Agora, mais do que antes, há um jogo a ser jogado sobre as construções das masculinidades torcedoras nos estádios de futebol.

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