Resumo

Os rios do Estado de São Paulo, no período aqui recortado, foram palco de inúmeros divertimentos que se realizavam ao lado de um extenso universo de trabalho. Esta pesquisa tem como objetivo analisar as transformações ocorridas no âmbito dos divertimentos que culminaram na consolidação do esporte moderno, sobretudo, a partir do surgimento de clubes e competições esportivas à beira dos rios. Nossa pesquisa examina os clubes paulistas que foram construídos às margens dos rios Pinheiros e Tietê. As primeiras décadas do século XX marcaram um período de intensas transformações na cidade, principalmente na tentativa de redesenhar o espaço urbano, e os rios aqui estudados foram fundamentais para o crescimento da São Paulo que nascia às suas margens (SEVCENKO, 1992). Esta modernização não se deu só no âmbito da malha urbana: um sem número de costumes, modos de divertimentos e mesmo maquinários e equipamentos foram importados da Europa e incorporados ao cotidiano paulistano. Em meio a estes elementos, encontrava-se o esporte. Símbolo de um modo de vida urbano e republicano, o esporte serviria bem aos intentos de uma sociedade brasileira que pretendia se inserir na modernidade. Em países como Inglaterra, França e Estados Unidos, a estruturação do esporte moderno se ligou a elementos como a nova dinâmica dos tempos sociais, o crescimento das cidades, as relações com o corpo, as novas formas de lidar com o tempo (GUTMANN, 2004). Guardando algumas dessas características, os esportes foram incorporados ao cenário das cidades brasileiras desde fins do século XIX, assegurando-se, é claro, as tensões provenientes dos novos sentidos e significados atrelados a esta prática (GOIS JR, 2013). Nesse ínterim, diversos clubes foram nascendo nas margens dos rios aqui estudados, transformando, pouco a pouco, as práticas ali realizadas e permitindo a difusão dos esportes. Em 1899 foi fundado o “Clube Espéria”, o primeiro às margens do rio Tietê. Depois disso, ao longo das primeiras décadas do século XX, inúmeros clubes, constituídos por imigrantes, operários ou membros das altas classes paulistanas foram se instalando às margens desses rios, especialmente ligados à prática do remo e da natação. Assim, as práticas outrora realizadas às margens e mesmo dentro dos rios, como piqueniques, festas, passeios, nado, transporte, tiveram seus sentidos alterados e redimensionados. É desse universo, dos divertimentos, clubes e práticas esportivas nos rios que se ocupa essa pesquisa, tomando como fontes principais: Atas, documentos e registros dos clubes esportivos; Legislação sobre os rios; Jornais “Gazeta Esportiva” e “Correio Paulistano”; Revistas “Educação Physica”; “Sports”, além de imagens tais como fotografias, pinturas e publicidade presentes nos acervos pesquisados, especialmente os acervos dos clubes aqui analisados. Trataremos, também, do âmbito de outros artefatos da cultura material relativos ao esporte existente nos acervos pesquisados.