Resumo

O objetivo deste trabalho é apresentar algumas questões em relação à construção das corporalidades por atletas de ultramaratonas (provas de corridas com quilometragens superiores às maratonas, isto é, acima de 42 km e 195m). Mais especificamente, pretendo refletir a respeito da categoria nativa “malucos”. Para isso, farei uma interlocução com os estudos sociais do esporte e ao que se convencionou chamar de “Antropologia da Saúde”. Aparecerão, portanto, pralém dos textos fundantes da antropologia dos esportes, interpretações teóricas debruçadas nos trabalhos de Luiz Fernando Dias Duarte (1986, 1998) e Michel Focault (1978). Neste sentido, a reflexão parte do que os interlocutores significam em torno da dicotomia corpo e mente, uma vez que, segundo o grupo estudado, “é tudo uma questão de cabeça”. Procuro compreender essas questões considerando como o campo esportivo das ultramaratonas se relaciona, por meio destes discursos, com os saberes biomédicos, responsáveis por construções diferentes do que se entende pelo termo “malucos”. Isto é importante dizer, uma vez que, embora o campo esportivo em questão seja composto por atores dos setores biomédicos, como fisioterapeutas, professores de educação física e médicos fisiologistas, por exemplo, a categoria aqui apresentada parece não se comunicar com os significados relacionados às “doenças mentais”, que constituem na cultura ocidental moderna, uma relação direta com a psicologização, biomedicalização, e/ou outros termos que levem em conta uma biologização do tema. Com isso não se pretende dizer que a construção desta categoria nativa não esteja permeada por estes saberes, mas que aponta para novas formulações. Assim, torna-se presente, também, neste texto uma consideração sobre a construção da noção de pessoa e da experiência.
 

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