Integra

As revistas acadêmicas exercem um papel estratégico no interior de uma área de conhecimento. No caso da educação física/ciências do esporte – denominação que o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) vem adotando há algum tempo, assumindo o trânsito e a falta de consenso que o campo disciplinar experimenta –, esse papel é simultaneamente o de catalisador da produção e de vetor de desenvolvimento da área. Isso acontece por diversos meios que se encontram nas sucessivas edições: cada uma delas é como que uma síntese daquilo que vem sendo a área de educação física/ciências do esporte no Brasil. Na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE), promovemos e convivemos com o movimento na recepção, avaliação e publicação de artigos. Esse não é um processo meramente administrativo, mas de mergulho profundo na forma de produzir e disseminar resultados de pesquisa na educação física/ciências do esporte. É nos seus interstícios que observamos como as pesquisas têm sido feitas, como elas se disseminam progressivamente em vários níveis de formação, mas, ao mesmo tempo, como se concentram de forma mais efetiva no plano da pós-graduação. É nesse movimento que nos deparamos com uma série de dificuldades que, como parte do campo, somos um de seus espelhos. Referimo-nos, por exemplo, às dificuldades com os prazos de avaliação dos trabalhos, objeto de justificável reclamação de vários autores. A área dispõe de poucos revisores e a atividade que lhes compete, ao render poucos pontos no “atletismo acadêmico”, acaba sendo um fardo pesado. Além disso, nossa baixa densidade acadêmica faz com que recebamos muitos pareceres insuficientes, exigindo-nos a busca de mais colaboradores para tentarmos chegar a um resultado minimamente satisfatório na avaliação de um trabalho. Os pareceres são com muita frequência precariamente detalhados, muito adjetivadores e com poucas indicações sobre o quanto os trabalhos submetidos dialogam com a literatura disponível – um grave problema em muitos dos artigos que a área tem 8 Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 31, n. 2, p. 7-9, janeiro 2010 publicado, trabalhos que ignoram o que já foi pesquisado e que, mesmo assim, são aceitos por nossas publicações, inclusive a RBCE. Alia-se a isso, nesse processo de busca por outro patamar de produção e veiculação do conhecimento, um cuidado maior que muitos de nossos pesquisadores devem ter ao elaborar seus trabalhos. Eles frequentemente chegam até o periódico com resumos que nada dizem dos artigos correspondentes, apresentando-se como, no máximo, uma breve introdução a eles. O mesmo pode ser dito das palavraschave escolhidas pelos autores, um problema enorme para os indexadores, e que talvez possa ser minimizado com os esforços que vêm sendo feitos para que novos bancos para a área se construam. As referências bibliográficas, por sua vez, muitas vezes são incompletas e desordenadas. Fragilidade de nossos programas de formação para a pesquisa? Certamente, tanto no plano da iniciação científica quanto na pós-graduação. Debilidade que também é a da RBCE e de outros periódicos, e que apenas por meio de um esforço coletivo – uma vez que o sucesso de um periódico não pode ser o resultado das dificuldades do outro – paciente, mas sem trégua, poderá ser superado. Os primeiros trabalhos publicados neste número da RBCE abordam estudos relacionados à eletromiografia; às explicações, no plano teórico, para a baixa ativação do bíceps braquial durante os exercícios de flexão de cotovelo com a articulação radioulnar em pronação; à percepção dos riscos, dos condicionamentos corporais e das interações sociais corporais entre praticantes de voo livre; à aplicação da Escala de Silhuetas para o público cego; às razões de adesão e manutenção da prática de atividade física por parte de idosos e à identificação dos níveis de qualidade de vida em escolares. Vários desses trabalhos mostram o crescente relacionamento da área de biodinâmica com a RBCE, algo que alarga a abrangência do periódico, receptivo à pluralidade de abordagens da área de educação física/ciências do esporte. Os textos seguintes abrangem a problematização do conceito de sedentarismo como expressão normativa biopolítica; a relação entre o conhecimento cotidiano das crianças, o texto televisivo e a cultura corporal; a integração da linguagem audiovisual nas aulas de educação física na educação infantil; o campo esportivo, a mídia e a produção de sentidos; as implicações decorrentes das proposições teóricas de Norbert Elias para os estudos do esporte. Os artigos subsequentes tratam da brincadeira por meio de reflexões sobre a infância, seus brincares e as práticas educativas de educação física tomando como fonte a obra Miguilim, de Guimarães Rosa; do jogo pela perspectiva da teoria histórico-cultural e dos processos de aprendizagem e desenvolvimento por intermédio do brincar de uma criança com diagnóstico de autismo em sessões de psicomotricidade. Finalizando este número da revista, são apresentados dois artigos que tratam do cotidiano de uma professora de educação Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 31, n. 2, p. 7-9, janeiro 2010 9 física vinculado aos demais projetos da escola em uma instituição pública do estado do Amapá e uma análise do perfil e da prática pedagógica de professores de educação física que atuam no contexto rural. Boa leitura!

Alexandre Fernandez Vaz Marcus Aurélio Taborda de Oliveira Verão de 2010

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