Resumo

Este estudo investiga contribuições de vivências com a natureza na formação de acadêmicos e professores de Educação Física no sentido de articular a atuação à Educação Ambiental no contexto escolar. Problematizam-se as razões que têm dificultado a Educação Física escolar a desenvolver o tema transversal meio ambiente. A pesquisa caracteriza-se como qualitativa. Quanto aos fins, é descritiva e aplicada e, quanto aos meios, bibliográfica, documental e de campo. O estudo também apresenta características da pesquisa-ação-participativa, que são: escuta dos interesses dos participantes; planejamento coletivo e intervenção na formação pessoal e profissional dos envolvidos. Participaram da pesquisa 28 integrantes do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência do Centro Universitário UNIVATES/RS/BRA, pertencentes a dois subprojetos da Educação Física, Licenciatura, caracterizados da seguinte forma: dois professores universitários, três professores de rede pública de ensino da Educação Básica e 23 acadêmicos. No estudo de campo, na produção de dados, fez-se uso de: entrevistas semiestruturadas, questionários, diário de campo, registros fotográficos e memoriais descritivos. Ministraram-se oito vivências com a natureza, orientadas pelo método Aprendizado Sequencial (CORNELL, 2008a; 2008b), bem como, pela proposta formativa elaborada pelo pesquisador, norteada por três dimensões pedagógicas: alteridade, ludicidade e sensibilidade. Na continuidade, os participantes planejaram e ministraram atividades relacionadas ao tema meio ambiente entre si, efetivando assim mais três vivências. Em relação aos dados, realizou-se a análise textual qualitativa proposta por Moraes (2007), a partir de três categorias estabelecidas a priori, alteridade, ludicidade e sensibilidade, além de uma emergente, a experiência docente. Analisando a formação inicial dos professores universitários e da rede pública, percebe-se que temas relacionados à Educação Ambiental não estão presentes ou são contemplados superficialmente nas aulas, como, também, não despertam o interesse dos professores. Na formação inicial dos acadêmicos, a Educação Ambiental é contemplada no currículo em algumas disciplinas das áreas das ciências humanas e didático-pedagógicas. A partir de vivências com a natureza, a dimensão da alteridade auxiliou os participantes a reconhecerem o Outro como legítimo Outro, a se compreenderem como parte da natureza e a olharem com mais atenção para o mundo ao seu redor. A dimensão da ludicidade destacou a relevância de o professor perceber-se como um “ser brincante”, o que rompe com o uso da ludicidade na formação inicial apenas como recurso didático-pedagógico. A dimensão da sensibilidade, a partir da exploração dos sentidos corporais, auxiliou os participantes a construírem as próprias opiniões sobre o mundo que os cerca. Essas dimensões foram identificadas nos planejamentos de aulas, o que consolida a experiência docente como mais uma dimensão necessária para a formação docente. Na experiência docente, constata-se que os participantes são autores do seu fazer pedagógico, utilizam saberes construídos a partir da pesquisa, como também os articulam com outros, acrescentando competitividade em algumas atividades. Conclui-se que as vivências com a natureza contribuem na compreensão da natureza, não apenas como espaço, mas, também, como parceira. O corpo revela-se como lugar possível de aprendizagens e de sensibilização do professor em relação à importância de trabalhar o tema meio ambiente na escola, elo entre a Educação Física e a Educação Ambiental.

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