Resumo

O projeto de Extensão "Terra Encantada: gente miúda, direitos integrais" e seu subprojeto "Educação Física para o cerrado: contribuições para a formação humana de crianças, jovens e professores/as do campo" objetiva fortalecer a autonomia, os aspectos da vida comunitária e a centralidade da Escola dentro das comunidades camponesas, defendendo o direito da criança e do jovem de estudar em seu território, caso seja esta sua opção e de seus familiares. Desenvolve-se desde 2013 em co-parceria com as pessoas da escola e da Comunidade do Sertão, localizada na zona rural do município de Alto Paraíso – GO na Chapada dos Veadeiros.

O projeto é trans e interdisciplinar e conta/contou com a contribuição de diferentes sujeitos da universidade, como estudantes e docentes dos cursos de Jornalismo/Comunicação, Geografia, Artes Cênicas e Educação Física da UFG, juntamente com os sujeitos do Sertão: famílias, crianças, jovens, trabalhadores/as da escola. Atualmente, atuamos por meio de oficinas com conhecimentos diversos advindos do Jornalismo e da Educação Física, e do Cine Sereno (projeção de filmes sob o céu estrelado na casa das famílias). Mas, para além dessas atividades, a proposta só tem sentido e significado pelas vivências múltiplas no cotidiano de trabalho e de lazer da comunidade. 
O projeto traz à tona a Educação do Campo como política pública de educação para atender às populações camponesas, seus interesses e especificidades negados ao longo da história e que sofre fortes ataques na atual conjuntura brasileira. A escola do campo tem papel central nesse grande desafio, já que propõe um movimento articulado entre os processos de ensino-aprendizagem, a vida dos sujeitos camponês, sua lutas, identidades e o acesso aos conhecimentos científicos (CALDART, 2012). Como bem exige uma educadora do Sertão: "Mais do que o direito à escola, ao número de matrícula e ao estudo, queremos que as crianças tenham o direito de aprender” (Delmar Rezende, primeira ida ao Sertão em 2013).
Nessa perspectiva, os saberes da cultura corporal são compartilhados e co-construídos durante as oficinas, que acontecem a cada dois meses aproximadamente. Durante nossa primeira experiência como estudantes-monitores na escola, em 2016, ainda no início do curso de licenciatura, trabalhamos com alguns conhecimentos do esporte previamente solicitados pela própria escola: o atletismo (especificamente o arremesso de peso e o lançamento de dardo) e o voleibol. Segue abaixo um breve relato dessa nossa primeira experiência como educadores do campo em formação.
Com as crianças do primeiro ao quinto ano produzimos juntos o peso do Atletismo, utilizando balões, areia e fita adesiva. Após, as crianças exploraram o material livremente e fomos inserindo alguns movimentos e técnicas de forma a ampliar o repertório motor e de brincadeiras. Elas demonstraram apreciar a experiência, compreender a essência do arremesso de peso e depois da oficina continuaram a explorar o novo brinquedo de diversas formas.
A proposta pedagógica com o vôlei inseriu-se no processo que já vinha sendo realizado pela professora de Educação Física da escola e é uma prática frequente dos estudantes durante os momentos de intervalo das aulas. A intenção foi aprimorar seus fundamentos básicos e aprender mais com a educadora da escola sobre o trabalho pedagógico.
Entende-se “que uma disciplina é legítima ou relevante (...) quando a presença do seu objeto de estudo é fundamental para a reflexão pedagógica do aluno e a sua ausência compromete a perspectiva de totalidade dessa reflexão” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 29). É dessa forma que enxergamos os conhecimentos da Educação Física na escola do campo e da cidade. 
Os desafios, tensões, contradições, dificuldades e avanços são parte de um projeto desta natureza. É a partir da construção de relações horizontais entre sujeitos e instituições e da clareza de que o campesinato necessita ser fortalecido que seguimos adiante.

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