Resumo

Este estudo propõe-se a refletir sobre as práticas corporais e sociais presentes na proposta pedagógica dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), que instituíram intencionalmente um currículo voltado para a educação do corpo. Entendemos que o corpo transmite nossas emoções, ações e comportamento a partir do que aprendemos e da sociedade na qual estamos inseridos. É esta mesma sociedade, e a cultura, que determinam modos de vida, como vestir, andar, falar, cumprimentar, amar, isto é, aquilo que é moralmente aceito ou rejeitado. Nosso foco mais amplo é entender como essas práticas foram construídas e instituídas nas instituições escolares e, neste estudo, nos ocupamos especificamente em identificar como tais práticas corporais foram, de forma sistemática, instituídas nas propostas pedagógicas dos CIEPs. Desse modo, o objetivo deste estudo é compreender como a educação do corpo estava presente na proposta de escola de tempo integral dos CIEPs nos dois governos de Leonel Brizola 1983-87 e 1991-94. Foram analisados documentos administrativos e legais referentes à Secretaria Especial de Educação disponíveis no acervo da Fundação Darcy Ribeiro (FUNDAR). Observamos em tais documentos as seguintes dimensões: i) arquitetura dos edifícios escolares, ii) normas de higiene e iii) tempo e espaço de fruição do corpo no currículo. A partir dessas dimensões definimos os nossos indicadores. Veremos que a arquitetura escolar e a rotina escolar dos CIEPs estavam integrados à prática educativa e ambas se somavam num processo de fortalecimento da cultura e promoção dos códigos de sociabilidade pensado por Darcy Ribeiro. Características próprias dos prédios dos CIEPs, como paredes rebaixadas das salas de aula, espaços amplos para a livre circulação dos alunos e mobiliário das salas de aula são aspectos da arquitetura que instituíam uma educação sistemática do corpo. Aulas de dança, teatro, artes, esportes, música e jogos integravam o currículo de Animação Cultural e Educação Física que demonstravam o apreço de Darcy Ribeiro pelo aprendizado das artes do corpo e da cultural em geral. O incentivo à educação higiênica, a partir da criação do horário para o banho diário, dos momentos para a escovação dentária, das normas para conservação do material e uma sistematização e organização na lavagem de utensílios usados no refeitório, traziam para esse tipo de escola a obrigação de socializar hábitos considerados civilizados para as camadas populares. Dessa forma, o estudo concluiu que Darcy estava pensando que educar os alunos era também ampliar o conhecimento para a comunidade e principalmente para as camadas populares. Os CIEPs tornavam-se escolas que deveriam ser atraente e mobilizar a comunidade na tarefa de educar as novas gerações e ela própria se educar na direção de uma cidadania plena.

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