Resumo

A história do homem é a história de seu corpo. E na tradição ocidental, o corpo humano teve várias atribuições em detrimento de conceito e de articulações com o ambiente que o cercava. Destacam-se visões místicas e religiosas de caráter teocêntrico e visões antropocêntricas marcadas pela primazia do intelecto. Em comum nessas percepções está uma visão dicotômica entre a dimensão física (corpo) e a dimensão metafísica (ora tomada como alma, ora tomada como consciência ou intelecto). Já a corporeidade é um termo que ganhou importância conceitual na contemporaneidade, sendo utilizado para descrever o corpo enquanto um corpo vivido e experienciado juntamente à consciência. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi evidenciar uma compreensão de homem frente à corporeidade descrita por Merleau-Ponty, voltando-se ao caráter formativo a partir de uma visão de existência inseparável do mundo, ou do homem e suas partes física e metafísica. O percurso metodológico percorrido apresenta-se como uma investigação conceitual que se vale da leitura e análise de textos, buscando a compreensão do caráter pedagógico da cultura corporal e seu alcance como um processo de formação do homem. A presente dissertação está dividida em três capítulos, sendo que no primeiro evidencia-se o conceito de corpo na cultura ocidental e frente a Educação. No segundo capítulo utiliza-se os estudos de Maurice Merleau-Ponty, em especial a obra Fenomenologia da Percepção, na qual aborda a existência, a relação do sujeito com o mundo e com outrem, a questão do corpo próprio e principalmente a noção de corporeidade. No terceiro capítulo faz-se uma aproximação dos conceitos merleau-pontianos com a questão da formação humana e avança-se na elaboração sobre a noção de prática corporal que, ao se tornar uma cultura corporal, interfere em um processo formativo. E esse mesmo processo formativo reflete em novas práticas corporais, pois a cultura corporal é a ressignificação constante da maneira de ver o corpo que se é, ao passo que ela é imanente ao sujeito. Ela está presente em todo o processo de formação humana e deve ser entendida como fundamento do aprendizado, pois denota a relação social com o mundo, com outrem e com os objetos que o cercam. O conceito de cultura corporal desnaturaliza a concepção que se tem de um corpo acessório e o compreende no processo histórico. Tal conceito não tem pretensão de uma hipervalorização do corpo frente à alma/razão, mas os conjuga em uma corporeidade que é o modo de ser no mundo. Por fim, evidencia-se que este estudo não visa oferecer uma ferramenta metodológica, mas sim possibilitar uma reflexão acerca dos processos formativos, urgindo na Educação a importância do autoconhecimento e da autorreflexão frente às vivências do sujeito encarnado. Esta corporeidade vivida, a qual é o estofo que o homem partilha com o mundo a sua volta, volta-se para uma questão de ecologia corporal ou de sustentabilidade humana, que dá sentido a uma Educação Física – que considere o homem em sua totalidade.

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