Resumo

Segundo Aurélio Buarque de Holanda, CARACTERIZAR significa "...descrever com propriedade, individualizar, assinalar ...". Mas, ainda segundo ele, pode significar também, "...pintar e trajar (o ator), para que pareça a personagem que representa em cena ..."Assim, com vistas a elaboração deste Estudo, passamos a considerar que para descrevermos com propriedade a Educação Física, teríamos que despi-la das vestes por ela até então trajadas (descaracterizá-la, portanto), pretendendo-se, com o gesto de desnudá-la, desvendarmos e passarmos a entender a personagem por ela representada no cenário educacional armado no palco social brasileiro. Assim, ao vermos nua, poderíamos resgatá-la em sua dimensão histórica, nela objetivando-se encontrar a sua identidade. Isto posto, passamos a admitir como verdadeira a premissa de ter sido de competência da Educação Física, ao longo de sua história, a representação de diversos papéis que, embora com significados próprios ao período em que foram vividos, corroboraram para definir-lhe uma considerável coerência na seqüência de sua atuação na peça encenada. Portanto, tendo sempre presente a preocupação de buscar saber a quais necessidades a Educação Física respondeu, no Brasil, em seus diferentes momentos históricos, nos propusemos resgatar em seu passado, a influência por ela sofrida das instituições militares e da categoria profissional dos médicos, desde o Brasil império; ainda a partir daquele período, e buscamos compreendê-lo em seu todo, interpretar a conotação dada pela Educação Física à questão do reforço por ela exercido à esteriotipação do comportamento masculino e feminino em nossa sociedade. Mais adiante, já na década de 30 deste nosso século, com o intuito de compreender em que medida, as mudanças havidas no reordenamento econômico-social sugeriam, através dos estímulos à Educação Física, a concretização de uma identidade moral e cívica brasileira, analisar seu envolvimento com os princípios de Segurança Nacional, tanto no alusivo à temática da eugenia da raça, quanto àquela inerente à Constituição dos Estados Unidos do Brasil, referente à necessidade do adestramento físico, num primeiro momento necessário à defesa da Pátria, face aos "perigos internos" que se afiguravam no sentido de desestruturação da ordem política-econômica constituída, como também à eminência de configuração de um conflito bélico a nível mundial, e, em outro instante, visando assegurar ao processo de industrialização implantado no país, mão-de-obra fisicamente adestrada e capacitada, cabendo a ela cuidar da recuperação e manutenção da força de trabalho do Homem brasileiro. Em um outro momento, já no período pós-64, buscar explicá-la no ensino superior a partir não só da Reforma Universitária, consolidada na Lei 5.540/68, como também da hipótese de ter tido tal iniciativa, a intenção de vê-la colaborar, através de seu caráter lúdico-esportivo, com o esvaziamento de qualquer tentativa de rearticulação do Movimento estudantil, movimento esse que fora vitima de violenta repressão, de ordem tanto física quanto ideológica. Por fim, ao aprendermos os significantes dessa outra leitura da História da Educação Física no Brasil, buscar correlacioná-los com as Tendências que a permeiam, na direção do estabelecimento de relações entre os papéis por ela representados ao longo de sua existência e sua configuração presente.

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