Resumo

O presente estudo tem como objetivo compreender como as diferenças são significadas e representadas pelos "atores sociais" que compõem o universo simbólico das aulas de educação física. Os personagens deste "enredo" constituem uma turma de 8° série de uma escola da rede pública do município de Campinas, São Paulo. O trabalho está delineado como uma etnografia, no sentido de uma "descrição densa", conforme Clifford Geertz (1989). Durante I (um) bimestre letivo estive imerso nesse cotidiano escolar, no intuito de ler as "entrelinhas" e filtrar o dito e o não dito no que se refere ao objetivo deste estudo. Tal incurso levou-me à possível compreensão de que as diferenças - entre os sexos, físicas, de comportamento, de habilidade, cor de pele e maneiras de se vestir - apresentadas pelos alunos nas aulas de educação física serviram de parâmetros definidores de desigualdade de oportunidades, preconceitos e sectarismos pautados por estereótipos. Nesse sentido, pude compreender que o entendimento das diferenças pelos "atores sociais" esteve permeado por um certo reducionismo, que tende a enxergar o "outro" somente por suas características mais visíveis, obscurecendo a complexidade da dinâmica cultural. Assim, subsidiado por uma perspectiva intercultural de educação e educação física, compreendi que as diferenças necessitam ser consideradas na ótica da alteridade que, pressupondo o "outro", possibilitaria o encenar das diferenças com outro enredo. Este proporcionaria a todos o acesso à aula, não como mero direito, mas na direção de um diálogo profícuo com o "outro"; seria palco de aprendizado com o diferente; seria, enfim, um enredo que, ao invés de estabelecer sectarismos, proporcionaria um compartilhar democrático de saberes e experiências. Pois, se o "outro" constitui-se em não mais do que um possível "eu", não faz sentido compreendê-lo como inferior.

Acessar Arquivo