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EDITORIAL:

Educação Física, pandemia e a Universidade 

             Com imensa alegria publicamos mais um número da revista Arquivos em Movimento, periódico da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Certamente num contexto tão particular como o vivido pelo Brasil e pelo mundo, esse editorial não poderia- sob pena de uma cobrança da história acerca dessa omissão- deixar de abordar a particularidade do impacto da pandemia do CORONAVÍRUS/COVID 19 no conjunto da vida, e em especial nas universidades.

A pandemia de CORONAVÍRUS/COVID 19 escancarou algo que qualquer relatório de órgãos oficiais de estatísticas já revelava: a imensa e estrutural desigualdade social e econômica que marca a formação social brasileira. Dois termos na formulação acima merecem destaque: estrutural e desigualdade econômica. Mais uma vez a realidade se impôe como determinante da verdade, como ensinava Marx nas teses de Feuerbach. As imagens chocantes em diversos países da América Latina da impossibilidade de realização de qualquer isolamento social de amplíssimas parcelas da população que precisam ganhar a sua vida em trabalhos precários sem nenhuma proteção social, o que lhes coloca entre a terrível escolha de arriscar a contaminar-se e a seus familiares ou morrerem de fome, só podem ser consideradas novidades aos alienados das condições de vida da ampla maioria da população. A metáfora tão comum empregada de estávamos todos no mesmo barco soa como piada de péssimo gosto quando as estatísticas revelam- mesmo essas sofrendo várias tentativas de maqueamento, como mostra o caso brasileiro- que a maioria das mortes de CORONAVÍRUS/COVID 19 possui nítido corte de classe e étnico racial. Foram os pobres que morreram em sua maioria. Foram os descendentes dos povos originais do continente, os negros e negras, moradores de favelas, assentamentos precarizados em diversos países da América Latina que morreram em sua maioria. Mesmo que estivéssemos no mesmo barco, fica nítido que não ocupamos os mesmos lugares, nem as mesmas possibilidades de salvamento nesses barcos.

Essa edição é publicada no momento em que Brasil passa de 80.000 mortos pela pandemia de COVID19. As ações negacionistas de diversas autoridades brasileiras- incluindo o próprio presidente da república, com diversos exemplos de sua indiferença, ignorância e desprezo a essas mortes- juntamente a um apelo por setores empresariais pela quebra apressada do isolamento social- no como campo da Educação Física, a pressão pela reabertura das academicas de ginástica- são parceiros e co responsáveis por partes dessas mortes.

A conjuntura nos obriga a repetir – com devidos acréscimos- a mesma dinâmica do último editorial. De início agradecemos aos autores e autoras, assim como aos revisores e revisoras. Sem vocês, essa revista – e qualquer outra - não existiria. Especialmente quanto aos revisores e revisoras, um agradecimento especial. No momento em que o trabalho nas universidades públicas em particular, e no serviço público em geral, é tão atacado - a ponto do Ministro da Economia do atual governo BOLSONARO afirmar serem os “servidores públicos parasitas”, e defender na fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020 que era hora de “colocar uma granada no bolso dos servidores” - esse trabalho realizado por esses professores e professoras - geralmente em suas casas, como não poderia deixar de ser em tempos de necessário isolamento social como forma de prevenção da proliferação dos casos da COVID19- deve ser laureado e mencionado. Aos trabalhadores das Universidades públicas - e nem todos os nossos revisores e revisoras são professores e técnicos-administrativos de universidades públicas - o único retorno desse trabalho é uma singela declaração que poderá ser usada para sua promoção funcional - esta também sob grave ameaça pelo nesfasto projeto de (contra) reforma administrativa do atual governo. Aqueles e aquelas que não são docentes das Universidades Públicas recebem uma declaração lhes conferirá minuscúlos pontos em futuros concursos públicos. Isso atesta que o motivo dessas pessoas em atuarem como revisores e revisoras está muito além dessa lógica matemática na carreira eou futuro e eventual (e cada vez mais ameçado) ingresso numa Universidade Pública. Isso tem que ser dito e espalhado para o conjunto da sociedade. Essa revista - e muitas outras publicadas pelo país - só existe por conta do trabalho de muitas pessoas. Mesmo que essa informação seja sabida por todos nós, precisa ser contada a plenos vapores. Além de seus salários de origem como trabalhadores em diversas instituições ou bolsas como alunos e alunas de mestrado e doutorado, nem autores, nem revisores, nem editores recebem para esse trabalho. Por isso, é inaceitável ser chamado de parasita. A esses e essas trabalhadorxs saudamos com mais essa edição da REVISTA ARQUIVOS EM MOVIMENTO.

Apresentamos os textos que compõe esse número da Revista.

Da Universidade Federal do Vale do São Francisco, temos o texto ANÁLISE DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE JUAZEIRO E PETROLINA, de autoria de Gilberto Feitosa da Silva, Maria Larissy da Cruz Parente, João Gabriel Eugênio Araujo, Camila Batista Gama Moura, Diego Luz Moura.

A presença do trabalho do professor Osvaldo Omar Ron, da Universidade Nacional de La Plata (Argentina) é parte da aproximação com instituições universitárias latinoamericanas. O texto do professor Ron é intitulado: Nociones de cuerpo educado en la formación superior en Educación Física, UNLP.

Vindos da Universidade Estadual do Pará e da Faculdade Inspirar de Londrina, temos o texto de Adriane de Souza Fengler, Francine Belo Clemente de Souza, Erica Feio Carneiro Nunes, Gustavo Fernando Sutter Latorre, cujo título é: O EFEITO DA ELETROESTIMULAÇÃO INTRAVAGINAL NA FUNÇÃO SEXUAL FEMININA.

Seguimos com o texto de Letycia Moura Quixabeira, Tathyane Krahenbühl da Universidade Federal de Goiás, intitulado “Presença do handebol na Educação Física Escolar: Um estudo com professores que atuam na rede municipal de ensino de Goiânia”.

            Luís Fernando da Silva Marques e Jerri Luiz Ribeiro, professores da FAMERCO-SOGIPA-RS, contribuem com o texto “Relação entre desempenho no tiro de 1.000 metros e desempenho nas corridas de rua de 5 km e 10 km de corredores de 40 a 50 anos”.

            Anna Luiza Gomes Viana e Mara Jordana Magalhães Costa, da Universidade Federal de Piauí, trazem o texto “ANÁLISE COMPARATIVA DO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA PÚBLICA E UMA ESCOLA PRIVADA DE TERESINA/PI”.

            Luciana Grafulim, Francine Costa de Bom, Alexandre Pacheco, Pedro Gabriel Ambrosio, Carolina Michels, Mariane de Oliveira Filastro, Guilherme de Sá, Elizangela Just Steiner e Kristian Madeira, da Universidade do Extremo Sul Catarinense, apresentam o texto “O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE ATLETAS BRASILEIRAS NA GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO”.

Vinculados a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rafael Sampaio de Oliveira Queiroz Silveira e Fábio Cahuê trazem o texto “Treinamento Intervalado de Alta Intensidade ou Treinamento Aeróbio Moderado Contínuo na Reabilitação Cardíaca de Idosos? Uma Revisão de Literatura por Busca Sistematizada”.

RENAN SANTOS FURTADO, doutorando em Educação na Universidade Federal do Pará e docente da Escola de Aplicação da mesma Universidade, apresenta o texto “EM BUSCA DA MEDIAÇÃO ENTRE AS PEDAGOGIAS CRÍTICAS DO ESPORTE DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR”.

Fabíola Rocha (UFRJ), Humberto Almeida dos Santos (UFRJ), Felipe Triani (UERJ), Jorge Felipe Columá (UNISUAM-FAETEC), Simone Freitas Chaves (UFRJ) contribuem para esse número com o relevante texto “MULTICULTURALISMO: DIVERSIDADE/ DIFERENÇA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL”.

Nei Jorge dos Santos Junior, Renata Pacheco Marins, Iago Fonseca de Mello Damázio, Pâmela Cristina Medeiros da Silva, da UNILAGOS-RJ, apresentam um texto intitulado “A DANÇA DA ESCOLA: reflexões necessárias à Educação Física escolar”.

Jederson Garbin Tenório (REDE ESTADUAL MATO GROSSO), Ronnie Fonseca Barbosa (IFMT), Lucas Andrade Carvalho (REDE MUNICIPAL PAULÍNEA-SP) trazem o texto ONDE HÁ FUMAÇA, HÁ FOGO! EDUCAÇÃO FÍSICA, FORMAÇÃO E PERSPECTIVA.

Por fim, FELIPE TRIANI traz uma resenha intitulada: Resenha do livro “Atletismo em Debate”, escrito por Geovana Coiceiro, Editora Autografia, 2017.

BOA LEITURA,

Prof. Dr Marcelo Paula de Melo

Editor-adjunto da Revista Arquivos em Movimento-EEFD-UFRJ

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