Resumo

Educar é construir a nacionalidade! Foi esse o slogan que a Associação Brasileira de Educação (ABE) escolheu para representar a primeira Semana de Educação Brasileira (SEB). Tal evento deveria “estimular não somente o governo, mas também os paes, professores e alumnos a população em geral, para facilitar a disseminação do ensino por todas as classes da sociedade (ABE, 1929, p.11), e teria como escopo “tornar mais profunda a comprehenção, por parte do povo, do papel da educação na vida de uma democracia, guiando a infância para um ideal de perfeição physica, mental e moral” (ABE, 1929). Temas como higiene, lar, natureza, escola, artes, educação física eram trabalhados. O evento identificava nas crianças uma possível ferramenta pulverizadora de novos hábitos, capazes de construir uma nacionalidade. Além de edições nos EUA e México, o evento foi realizado em diversos estados brasileiros, sob a coordenação da ABE. No Brasil, nas décadas de 20 e 30, parece ter sido na educação que a ABE encontrou seu local mais eficiente para disseminar suas formas de ver, ler, interpretar e praticar o mundo. Esta pesquisa trabalha com a hipótese de que em um país semianalfabeto a educação do corpo seria o principal instrumento para forjar uma identidade nacional. Logo, o objetivo deste trabalho é analisar, através da SBE realizada em todo o Brasil, as diversas formas de educação do corpo eleitas para se “construir a nacionalidade”. Como fontes, utilizaremos relatórios, atas, boletins, programas de atividades, correspondências, fotografias e recortes de jornais. Analisados a partir da História Cultural, os documentos não são tratados como reveladores da realidade em si e sim como documentos que comungam da tendenciosidade, expressando o olhar de quem o(s) produziu. Na tentativa de consolidar uma nova ordem que via no fortalecimento do Estado Nacional a condição básica de progresso para uma dita “modernidade”, o corpo torna-se o centro das ações de constantes intervenções de poder. A própria SBE pode ser analisada como uma dessas práticas e discursos que, através de uma educação do corpo, buscavam inculcar novos hábitos no povo brasileiro. Educar o corpo vem sendo, desse modo, torna-lo adequado ao convívio social e inseri-lo em processos de aprendizagem visando determinado objetivo. (SOARES, 2014, p. 2). Entender esses conceitos é essencial na medida em que se tem um conjunto de pessoas que se prontificam a pensar um evento que tem como objetivo “educar” as crianças brasileiras. Isso implica pensar que tal grupo pretendeu instalar a sua maneira de ver o mundo ou mesmo a maneira julgada adequada para aquelas crianças perceberem o mundo, estabelecendo classificações, propondo valores e normas que orientam o gosto, definem limites, (des)autorizam comportamentos para os papeis sociais que a crianças, identificadas como o futuro do Brasil, deveriam seguir.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO. Programa de atividades. Rio de Janeiro: ABE, 1929.

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.

SILVA, Leonardo Mattos da Motta. Educação do corpo na Associação Brasileira deEducação: As Semanas de Educação (1928-1935). 2016. 145p. Dissertação (Mestrado) −Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.

SOARES, Carmen. L. Educação do corpo. In: FENSTERSEIFER, P. E.; GONZALEZ, F. J. (Org.). Dicionário crítico de Educação Física. Ijui: Editora Unijui, 2014.

Fonte de financiamento: CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.