Resumo

Introdução: A excitabilidade da via reflexa pode ser alterada em virtude de adaptações resultantes do treinamento neuromuscular. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito do treinamento neuromuscular na modulação do padrão de recrutamento reflexo evocado eletricamente, em escolares praticantes de basquetebol. Métodos: Ensaio clínico clássico randomizado e controlado com amostra recrutada por conveniência em centro de iniciação desportiva. A amostra foi constituída por 29 escolares saudáveis (~14 anos) praticantes de basquetebol, divididos aleatoriamente em dois grupos: grupo experimental (GE: n=14) e grupo controle (GC: n=15). As alterações nos padrões de recrutamento de unidades motoras (UM) foram observadas a partir da curva de recrutamento (CR) do reflexo H. O grau de inibição pré-sináptica (IPS) foi avaliado pelo paradigma condicionante- teste (C-T). O treino neuromuscular teve duração de 8 semanas. A análise estatística dos dados estudados foi realizada por meio do software livre R. O efeito do treinamento neuromuscular sobre as variáveis foi verificado através de uma ANOVA mista com 2 fatores e medidas repetidas e ANOVA não paramétrica de 2 fatores e medidas repetidas, considerando a intervenção como efeito entre-indivíduos e entre os momento (pré e pós-intervenção) como efeito intra-indivíduo. A comparação entre os grupos com dados de medidas únicas foi feita pelo teste t não pareado ou pelo teste U de Mann-Whitney, a depender da normalidade dos dados. Além das análises baseadas no teste de hipóteses, o tamanho do efeito foi calculado para dados de distribuição normal (d de Cohen) e não normal (delta de Cliff). A normalidade foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilk. Resultados: A variável SlopeH (delta Cliff=0,469) aumentou no GE indicando que houve diminuição na variabilidade dos limiares de ativação dos motoneurônios, logo um aumento no ganho reflexo de recrutamento de UM após o treinamento. A variável H@th (delta Cliff=0,367) aumentou no GE indicando alterações na relação estímulo-resposta reflexa das unidades motoras menores após o treino. A variável Mmax não sofreu alteração, mas a SlopeM (=0,357; P=0,035) reduziu para o GC. Isso pode ser consequência de alterações nas características de recrutamento dos axônios motores para estímulo elétrico externo. Apesar da literatura sugerir aumento da IPS em resposta ao treinamento neuromuscular, o Grau IPS não foi alterado no presente estudo. O Percentual de Gordura (%G), diminuiu significativamente (p=0,030), porém o tamanho do efeito foi muito pequeno (=-0,240). Conclusão: Os dados eletrofisiológicos sugerem que o treino neuromuscular induziu plasticidade na excitabilidade reflexa medular, refletida no aumento do ganho de recrutamento de UM e maior efetividade da relação estímulo-resposta das UM menores. Logo, o treinamento facilitou a resposta do sistema neuromuscular para movimentos que utilizem fibras do tipo S, resistentes à fadiga.

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