Resumo

Introdução: A obesidade é uma doença crônica metabólica caracterizada pelo acúmulo de gordura corporal e considerada fator de risco independente para doenças cardiovasculares. Dados recentes apontam que a obesidade pode causar prejuízos cardíacos como remodelação cardíaca patológica e predispor a insuficiência cardíaca. O treinamento físico tem sido utilizado como ferramenta não farmacológica com intuito de reverter ou atenuar os prejuízos cardíacos oriundos da obesidade, promovendo benefícios ao coração como melhora da função cardíaca em condições patológica e saudável. Objetivo: Avaliar a função miocárdica e a cinética de cálcio intracelular em cardiomiócitos isolados de ratos obesos submetidos ao treinamento físico resistido. Material e Métodos: Foram utilizados 58 ratos Wistar machos com aproximadamente 150g, 30 dias de idade, distribuídos aleatoriamente e inicialmente em dois grupos: controle (C; n= 29) e obeso (Ob; n= 29), os quais receberam dieta padrão e dieta hiperlipídica insaturada. Após o período de indução e exposição à obesidade, os animais foram randomizados em quatro grupos: controle (C), controle treinado (Ctr), obeso (Ob) e obeso treinado (Obtr). O protocolo de treinamento resistido foi realizado, 3 vezes por semana, 4 a 5 séries com intensidade progressiva de 50, 75, 90 e 100% e 100% + 30g da carga máxima conduzida em escada adaptada para ratos, durante 10 semanas. Foram realizadas análises do perfil nutricional, glicêmico e pressórico. As técnicas de Hematoxilina-eosina e Picrosirius Red foram utilizadas para avaliar o processo de remodelação cardíaca. A contratilidade miocárdica e a cinética de cálcio foram avaliadas pela técnica de cardiomiócito isolado. A comparação entre os grupos C e Ob foi realizada por Teste t. Para as comparações dos grupos C, Ob, Ctr e Obtr utilizou-se ANOVA duas vias e complementada com teste post hoc Bonferroni. O nível de significância adotado foi de 5%. Resultados: Os grupos alimentados com dieta hiperlipídica apresentaram maior peso (PC), gordura corporal (GC) e área seccional transversa (ASC) quando comparado aos respectivos grupos controles (PC: C= 478g ± 36 vs. Ob= 622g ± 67; Ctr= 472g ± 45 vs. Obtr= 579g ± 57; p<0,05); (GC: C= 27,8g ± 5,28 vs. Ob= 59,8g ± 18,14; Ctr= 27,3g ± 2,22 vs. Obtr= 50,91g ± 13,97 p<0,05); (ASC: C=719,0 ± 52,2 vs. Ob= 917,0 ± 192,5; Ctr= 747,8 ± 114,5 vs. Obtr= 912,6 ± 178,5 p<0,05). Os valores pressóricos não foram diferentes entre os grupos experimentais. As variáveis contráteis de cardiomiócitos isolados mostraram diferença significativa para o encurtamento (%) (C= 7.118 ± 2.564; Ctr= 11.036 ± 3.725; Obtr= 8.574 ± 2.021; p<0,05) e velocidade máxima de encurtamento (μm/s) (C= 1,599 ± 0,654; Ctr= -3,374 ± 1,269; Obtr= 2,532 ± 0,695; p<0,05) sendo maiores no grupo Ctr em relação ao grupo C e Obtr, e maior no grupo Obtr em relação ao grupo Ob. As variáveis analisadas da cinética de cálcio intracelular miocárdica mostraram que o grupo Obtr apresenta valores significativamente maiores para a velocidade de liberação de cálcio (μm/s) (Ob= 18,552 ± 17,253; Obtr= 53,754 ± 61,042) e recaptura (Ob= 5,126 ± 3,703; Obtr= 5,774 ± 3,277) e cálcio sistólico (Ob= 1,050 ± 1,119; Obtr= 1,224 ± 2,292) (nM). Conclusão: O treinamento resistido foi capaz de reverter a disfunção cardíaca de ratos obesos decorrente de melhora na cinética de cálcio intracelular miocárdica.

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