Resumo

Desenvolvimento motor compreende múltiplas causas, internas e externas ao indivíduo. Entre as externas estão as variações nas restrições da tarefa. O impacto dessas restrições no processo ainda é pouco conhecido, tornando-se imprescindíveis investigações sobre seus efeitos no comportamento de indivíduos em diferentes estados de desenvolvimento. O propósito deste estudo foi verificar se e como as restrições da tarefa poderiam influenciar na organização de uma tarefa manipulativa de preensão manual, em crianças nos dois primeiros anos de vida. Os três estudos conduzidos se preocuparam em verificar como os padrões de preensão seriam influenciados pelo grau de complexidade da tarefa (Estudo 1), pelo tipo de acesso ao objeto de manipulação (Estudo 2) e pela combinação entre a complexidade da tarefa e o tipo de acesso ao objeto de manipulação (Estudo 3). No estudo 1, a mudança de uma tarefa simples para uma complexa levou à diminuição de padrões digitais e ao aumento de padrões palmares e indefinidos. No estudo 2, os diferentes tipos de acesso à barra provocaram a adoção de padrões eminentemente digitais em todas as fases da tarefa. No estudo 3, os tipos de acesso exerceram grande influência na organização do comportamento na fase de preensão, mas a complexidade da tarefa consegue desestabilizar o sistema a partir da fase de transporte. Embora um comportamento possa ser modificado numa ou noutra direção a partir de mudanças em restrições da tarefa, do ambiente ou do organismo, isso não significa que a geração de uma resposta ocorra sem a participação da função cerebral. O aumento de complexidade da tarefa implicaria numa restrição interna em fase de transição ligada ao estabelecimento de um programa de ação para a realização de habilidades manipulativas. Portanto, o desenvolvimento dessas habilidades depende não só de mudanças em restrições da tarefa e do ambiente, mas também da maturação neuronal e de programas de ação mais elaborados.

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