Resumo

O andar para trás (AT) no solo demonstrou ser uma forma de terapia benéfica para melhorar parâmetros de marcha em indivíduos com AVE n a fase crônica, no entanto, o AT em esteira ainda não foi explorado. Este estudo teve como objetivo avaliar e comparar o padrão da marcha na esteira entre o AT e andar para frente (AF) em velocidade controlada, além de verificar os efeitos da velocidade da esteira sobre o padrão locomotor durante o AT. Adicionalmente, buscou-se verificar as diferenças encontradas nas variáveis freqüência cardíaca (FC) e percepção de esforço subjetiva (PES) nas diferentes direções do andar em três velocidades. Participaram do estudo 10 indivíduos adultos de ambos os sexos com seqüela de AVE crônica e oito indivíduos controles, pareados em sexo e idade com os indivíduos com hemiparesia. Foram realizadas avaliações clínicas e biomecânicas dos participantes por meio de análise cinemática da marcha em esteira. Os indivíduos realizaram a tarefa de AT na esteira em velocidade inicial de 0,14 m/s, e esta foi incrementada gradativamente até a máxima velocidade tolerada. Foram filmadas cinco passadas válidas para casa situação de velocidade. Em seguida, os procedimentos foram repetidos durante a tarefa de andar para frente (AF) na esteira, com velocidades idênticas àquelas usadas no AT. Além de parâmetros cinemáticos, foram analisadas as mudanças na FC e percepção de esforço subjetiva (PES) durante as variações de velocidade da esteira. Foram consideradas para análise três velocidades: 0,2 m/s, 0,3m/s e a velocidade máxima do AT. A ANOVA two-way testou os efeitos da direção e membros inferiores (MMII) sobre as variáveis cinemáticas de interesse na velocidade controlada. A ANOVA one-way de medidas repetidas verificou o efeito da velocidade sobre as variáveis de interesse durante o AT. Foram utilizadas ANOVAS two-way para verificar o efeito da direção (AF e AT) e velocidade (0,2 m/s, 0,3m/s e velocidade máxima do AT) sobre a FC, PES e índice de simetria (IS). O AT em velocidade controlada ao AF caracterizou-se por apresentar menor comprimento do passo, maior duração relativa do apoio simples e menor duração relativa do duplo apoio, sendo estas diferenças identificadas no grupo de indivíduos com hemiparesia e grupo de indivíduos controles. O pico de flexão do joelho no balanço foi menor no membro inferior parético (MI P) em relação ao membro inferior controle (MI CTL) e ao membro inferior não parético (MI NP), e foi menor no AT comparativamente ao AF. A extensão máxima do quadril foi menor no AT em relação ao AF no grupo com hemiparesia, sendo que durante o AT, esta foi menor no grupo com hemiparesia em relação ao MI CTL. O valor angular do tronco no instante da máxima extensão de coxa apresentou efeito de direção somente no grupo CTL, sendo apresentada maior inclinação anterior do tronco no AF. Durante o AT, o deslocamento anterior do tronco foi maior no lado parético comparativamente ao lado não parético e controle, evidenciando maior movimento compensatório. A velocidade não apresentou efeito sobre os ângulos do quadril do grupo CTL, e no grupo com hemiparesia a máxima extensão do quadril diminuiu com o aumento da velocidade no MI P. A amplitude de flexão do joelho aumentou com o incremento da velocidade no MI NP. A velocidade não apresentou efeito sobre os IS. A FC foi maior durante o AT em todas as velocidades, tanto no grupo com hemiparesia como no grupo controle, sendo esta incrementada com o aumento da velocidade. A PES foi maior no AT nos dois grupos somente na velocidade máxima, no entanto, no AT, esta aumentou com o incremento da velocidade, enquanto que no AF o incremento da velocidade só aumentou a PES no grupo com hemiparesia. Sugere-se o uso da tarefa do AT em esteira como alternativa para a reabilitação da marcha, além de reabilitação cardiopulmonar e metabólica após um AVE.