Resumo

Introdução: o diabetes está associado com disfunção endotelial, bem como com diversas desordens cardiovasculares, como hipertensão arterial sistémica (HAS). A HAS e o diabetes coexistem muito frequentemente. Aproximadamente, 60-65% dos diabéticos são hipertensos. A coexistência do diabetes e HAS pode reduzir a vasodilatação endotélio-dependente, que pode ser parcialmente explicada por uma reduzida produção ou resposta ao óxido nítrico (ON) na nusculatura vascular lisa. Por outro lado, estudos têm demonstrado que uma única sessão de exercício pode promover reduções significativas na pressão arterial (PA). Esta ocorrência é conhecida como hipotensão pós-exercício (HPE) e parece estar associada com a atividade do sistema calicreína-cinina e liberação do ON. Embora estudos tenham observado HPE em indivíduos com diabetes tipo 2 (DT2), os mecanismos moleculares relacionados à sua ocorrência não foram completamente elucidados. Adicionalmente, a prescrição de intensidades de exercício baseada em cargas relativas ao limiar de lactato (LL) têm sido sugerida para indivíduos com DT2. No entanto, apesar de estudos anteriores demonstrarem que os indivíduos com DT2 apresentam HPE quando submetidos a exercícios em intensidades em torno LL . Existe evidência que indivíduos com DT2 apresentam menor atividade da calicreína plasmática (ACP) em comparação aos indivíduos não diabéticos, sugerindo uma menor liberação de ON e redução da vasodilatação endotélio-dependente em resposta ao exercício para essa população. Contudo, para o nosso melhor conhecimento, ainda não foram realizadas investigações sobre as respostas integradas de ACP, bradicinina (BK), des-Arg9-bradicinina, ON e sua associação com a ocorrência de HPE em indivíduos com ou sem DT2. Ademais, salvo melhor juízo, existe apenas um estudo que tenha investigado os efeitos do exercício físico (aeróbio e/ou resistido) sobre a resposta da PA de 24 horas em indivíduos com DT2. Sem mencionar que também não é do nosso conhecimento, estudos que tenham investigado os efeitos de diferentes intensidades de exercício aeróbio sobre a PA de 24 horas em indivíduos com DT2. Somando a isso, diversos estudos têm investigado os efeitos de diferentes modos de exercício (aeróbio vs. resistido), intensidades, e durações, sobre as respostas da P A pós-exercício. Estudos sobre os efeitos de diferentes modalidades esportivas, especialmente artes marciais, também foram realizados, tais como: Tai Chi Chuan, Jiu Jitsu e Judô. Contudo, até o presente momento, nenhum estudo investigou a resposta da P A após uma única sessão de Caraté de contato (CC). Vale ressaltar que a literatura científica relacionada a esportes de combate têm sido pouco explorada, especialmente em relação às variáveis relacionadas com a saúde ( ou seja, a redução da PA pós-exercício). A maioria dos estudos investigaram os parâmetros relacionados com o desempenho em atletas, tornando a avaliação de variáveis relacionadas com a saúde, uma evidente lacuna científica. Portanto, investigações relacionadas a este assunto têm sido fortemente encorajada. Cabe salientar que, dado as conhecidas complicações do DT2 e as características da modalidade em questão ( elevado contato físico de alto impacto), torna-se prudente inicialmente investigar os efeitos de uma sessão de CC sobre a resposta da P A pós-exercício em indivíduos aparentemente saudáveis e posteriormente, se possível, em populações especiais como diabéticos e hipertensos. No que se refere ao exercício crónico, em particular sobre o exercício de força, a literatura disponível a respeito dos seus efeitos sobre a resposta do ON e, por sua vez, sobre a PA em indivíduos com DT2, ainda é muito incipiente. Para o melhor do nosso conhecimento, existem apenas dois ensaios clínicos randomizados sobre os efeitos do treinamento resistido (TR) sobre a resposta do ON e P A em pacientes com DT2, dos quais apenas um, verificou a resposta do ON juntamente com a P A frente ao TR. Portanto, há uma aparente falta de evidências a respeito dos efeitos do TR sobre as respostas do NO e PA em pacientes com DT2. Objetivos: estudo 1) investigar e comparas as respostas de ACP, BK, desArg9-bradicinina, ON e PA após uma única sessão de exercício aeróbio realizada em intensidade moderada (90% da carga de LL) em indivíduos com e sem DT2; estudo 2) verificar e comparar os efeitos de uma única sessão de exercício aeróbio sobre a resposta da PA de 24 horas e verificar os efeitos da intensidade do exercício aeróbio sobre a resposta da PA 24 h em indivíduos com DT2 e pré-hipertensos; estudo 3) avaliar os efeitos de uma única sessão de CC sobre a resposta da PA pós-exercício em adultos jovens; estudo 4) investigar os efeitos de oito semanas de TR sobre as respostas de ON e P A em pacientes com DT2 e seus pares controles. Métodos: estudo 1) Dez indivíduos com e DT2 e 10 não diabéticos (ND) foram submetidos a três sessões: 1) teste incremental máximo em bicicleta ergométrica para determinar o limiar de lactato (LL); 2) 20 min de exercício de carga constante em cicloergômetro, em 90% L T e; 3) sessão controle. PA e consumo de oxigénio foram mensurados em repouso e aos 15, 30 e 45 min pós-exercício. Amostras de sangue venoso foram coletadas em 15 e 45 minutos do período de recuperação para posterior análise de ACP, BK e desArg9- bradicinina. ON foi analisado aos 15 minutos após o exercício. Estudo 2) Dez indivíduos com diabetes tipo 2 e pré-hipertensão foram submetidos a três sessões aplicadas em ordem randômica: 1) controle ( CON), sem exercício e exercício em intensidades moderadas (MOD) e máxima (MAX). A frequência cardíaca (FC), P A, as concentrações de lactato sanguíneo ([Lac ]), consumo de oxigénio (V02) e taxa de percepção de esforço (TPE) foram coletados em repouso, durante as sessões experimentais e durante o período de recuperação de 60 min. Após esse período, a P A de 24 h foi monitorada. Estudo 3) Trinta e dois atletas CC foram submetidos a uma sessão de CC (50 min) e uma sessão CON. A PA foi medida durante o repouso, bem como aos 15, 30, 45 e 60 min da recuperação pós-exercício. Estudo 4) Foi realizada oito semanas de estudo randomizado controlado em pacientes DT2 e ND). Após a triagem inicial, foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos: (1) treinados com DT2 (TREINADODT2; n = 9), (2) treinados ND (TREINADOND; = n 1 O), ( 3) controle DT2 (CON DT2; n = 8) e (4) controle ND (CONND; n = 7). NO e BP foram determinadas antes e após a intervenção. Resultados: estudo 1) somente o grupo não diabético (ND) apresentou HPE para pressão arterial sistólica e pressão arterial média na sessão LT 90%. O ON plasmático aumentou ~ 24,4% no grupo ND e ~ 13,8% para o DT2 15 min após a sessão de exercícios. Além disso, apenas os indivíduos ND mostraram aumentos de ACP e BK em resposta ao exercício e somente os DT2 mostraram um aumento da produção desArg9-bradicinina. estudo 2) Ademais, comparado com a sessão CON, somente a sessão de exercício MAX apresentou HPE, que durou até 8 h após o exercício e durante o sono. estudo 3) Em relação ao CC, a pressão arterial sistólica (PAS), diastólica (PAD) e pressão arterial média (MAP) foi significativamente menor no período pós-exercício em relação ao pré-exercício repouso, bem como em relação a sessão CON, com as maiores reduções sendo observadas aos 60 min de recuperação. estudo 4) Após oito semanas de RT, ambos os grupos experimentais (DT2 e ND), apresentaram diminuição da PAS em 7,0 e 3,4 mmHg, respectivamente. No entanto, os grupos controle (DT2 e ND) demonstrou manutenção (0,24 mmHg para DT2) ou elevação (2,2 mmHg para ND) da PAS. Embora nenhuma das mudanças foram significativas (p> 0,05). Conclusões: estudol) concluiu-se que os indivíduos comDT2 apresentaram menor liberação ACP, bradicinina e ON, bem como maior produção desArg9-bradicinina e reduzida HPE em relação aos participantes do grupo ND após uma única sessão de exercício. Estudo 2) uma única sessão de exercício aeróbio resultou em redução da PA de 24 h em indivíduos com DT2, especialmente durante o sono, e esta redução parece ser dependente da intensidade do exercício realizado. Estudo 3) uma única sessão CC pode promover uma diminuição da PA durante pelo menos 60 minutos depois de realizar este tipo de exercício em adultos jovens. Estudo 4) oito semanas de TR não aumenta as concentrações de ON e, por sua vez, não reduz a P A em indivíduos com DT2, porém parece impedir o seu aumento.

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