Resumo

O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da condição pré-isquêmica (CPI) na cinética dos parâmetros ventilatórios em diferentes intensidades de exercício. Doze indivíduos (23,1±1,7 anos; 176,1±4,6 cm; 77,6±8,3 kg; 46,7±5,7mL∙kg-1∙min-1) fisicamente ativos realizaram em 5 dias diferentes os seguintes testes em cicloergômetro de frenagem eletromagnética: 1) teste de carga incremental até exaustão voluntária para determinação das variáveis máximas (consumo máximo de oxigênio, VO2máx) e submáximas (Limiar Ventilatório, LV); 2) em dois dias diferentes duas repetições de exercício em carga constante (PCC) com 6min de duração em intensidade moderada a 80%LV intercalados com 30min de intervenção com o CPI (3x5min de oclusão/3x5 de reperfusão para cada coxa, de maneira intermitente e alternada); 3) em dois dias diferentes duas repetições de PCC de 6 min em intensidade severa correspondente a 70% do valor entre o VO2 no LV e o VO2máx (70%∆, i.e. LV + 0.7x(VO2max – LV)) intercalados por 45min de repouso passivo seguidos do protocolo de CPI. Na carga moderada as variáveis que apresentaram diferença significante da condição controle para a experimental foram: a constante de tempo do componente primário (t1) do VCO2 (43,4±10,4s para 58,2±18,5s), a oxidação de carboidratos (1,43±0,32g∙min-1 para 1,16±0,33g∙min-1) e a oxidação de gordura (0,27±0,12g∙min-1 para 0,40±0,12g∙min-1). O t1 do VO2 (25,4±9s para 21,2±6,6s) e o VO2 final (1689,1±291 para 1745,9±255,7mL∙min-1) não apresentaram diferença significante no domínio moderado. No domínio severo o CPI acelerou significativamente o t1 (19,2±3,3s para 14,8±3,6s) e reduziu a concentração sanguínea final de lactato (7,48±2,58 mM para 7,01±2,20mM) não alterando a amplitude do componente lento (502,5±204,1 para 529,1±133,5mL∙min-1) e o VO2 final (3406,5±474,4 para 3489,7±435,6 mL∙min-1). Podemos concluir que a cinética do componente primário do VO2 (t1) foi acelerada após o CPI no exercício severo, sem efeitos sobre a cinética do VO2 durante o exercício moderado, sugerindo que o principal efeito do CPI parece residir sobre o aumento da oferta de O2 induzida pelas modificações no fluxo sanguíneo, corroborando com a hipótese da limitação periférica (inércia oxidativa) como principal determinante na cinética do VO2 ao início do exercício moderado. No domínio moderado, o CPI aumentou a retenção de CO2 e consequentemente tornou mais lenta a cinética do VCO2 no músculo como conseqüência da diminuição de HCO3- pela isquemia, além disso, a alteração na oxidação de substratos observada durante o exercício subseqüente o CPI provavelmente ocorreu pela maior oferta de AGL e ativação da β-oxidação induzidos pelos períodos de reperfusão