Resumo

Crianças que têm dificuldade para fazer tarefas rotineiras que requerem habilidades motoras, como escrever, se vestir, brincar de bola ou andar de bicicleta, com impacto na participação em casa, na escola e na comunidade, são frequentemente chamadas de desajeitadas ou estabanadas e, clinicamente, muitos termos técnicos são usados para se referir a esse problema. Atualmente, o termo mais usado é Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC). Muitas crianças não superam o TDC e, quando atingem a adolescência e idade adulta, além dos problemas motores, observam-se questões como isolamento social, depressão e ansiedade. Uma vez que o TDC tem impacto ao longo da vida das pessoas é importante criar recursos para manejo do problema. Existem várias alternativas para o tratamento do TDC, sendo que no presente estudo utilizamos uma abordagem motora cognitiva denominada Cognitive Orientation to Daily Occupational Performance ou CO-OP. Os objetivos do presente estudo foram: explorar o uso do protocolo do CO-OP no tratamento de crianças brasileiras com TDC; investigar os efeitos do CO-OP no desempenho de atividades e verificar se, após a terapia motora cognitiva, as crianças seriam capazes de transferir e generalizar o uso das estratégias e das habilidades funcionais adquiridas para melhorar o desempenho em outras atividades e contextos. Estudo experimental de sujeito único, com oito crianças com TDC, com idades entre seis e dez anos, avaliadas com o Developmental Coordination Disorder Questionnaire (DCDQ-Brasil), Child Behavior Checklist (CBCL), Swanson, Nolan and Pelham IV Scale (SNAP IV), respondidos pelos pais; o Movement Assessment Battery for Children-2 (MABC-2), Wechsler Intelligence Scale for Children-III (WISC-III) feitos por avaliadores externos; o Perceived Efficacy and Goal Setting System (PEGS), a Medida Canadense de Desempnho Ocupacional (COPM) e a Performance Quality Rating Scale (PQRS), para identificar metas de terapia e avaliar progresso. Após a avaliação, as crianças participaram de 13 sessões de terapia motora cognitiva, usando um protocolo de intervenção com pequenas adaptações em relação ao protocolo original. Os dados indicaram que, embora muitas crianças não tenham apresentado ganhos significativos no desempenho motor, como medido pelo MABC-2, o desempenho na maioria das atividades selecionadas por cada criança melhorou de maneira significativa, sete crianças conseguiram generalizar o aprendizado e seis crianças transferiram o uso de estratégias e habilidades adquiridas em terapia para aprender outras tarefas. Os resultados mostraram que o programa CO-OP é uma opção viável de tratamento para crianças com TDC no Brasil, devendo ser ainda mais investigado em outros formatos e com amostra maior.

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