Resumo

Os ritmos biológicos são fatores que influenciam o desempenho físico de atletas e não atletas. Em estudos experimentais em condições controladas, o nível de desempenho parece alcançar o pico durante o final da tarde. Contudo, ainda são poucos os dados disponíveis sobre essa influência do horário do dia em contextos mais próximos da realidade, sobretudo em condições de elevada exigência física e psicológica que caracterizam as modalidades esportiva coletivas. Dessa maneira, a avaliação do desempenho esportivo ao longo dos dias e horários de competições reais e de alto nível de exigência representa uma oportunidade de compreender efeitos dos ciclos e ritmos biológicos em paradigmas ecologicamente mais complexos. OBJETIVO: Avaliar a influência dos horários dos jogos no desempenho técnico-tático do vôlei de praia olímpico nos Jogos Olímpicos de Tóquio. MÉTODOS: Neste estudo utilizamos os dados disponibilizados das partidas realizadas entre os meses de julho e agosto de 2021 no endereço eletrônico do vôlei de praia nas Olimpíadas de Tóquio (https://en.volleyballworld.com/beachvolleyball/competitions/olympics-2020/schedule/). Utilizamos informações de 103 jogos, 51 da chave masculina e 52 da feminina. Cada categoria contou com 24 equipes/duplas. Avaliamos a influência do ciclo circadiano no desempenho considerando os horários dos jogos divididos em três turnos, independentemente de categoria: manhã (n=37 jogos), tarde (n=33 jogos) e noite (n=33 jogos). Extraímos os dados para o cálculo de variáveis relacionadas ao ambiente de jogo (temperatura do ar, temperatura da areia, velocidade do vento) e caracterizam o jogo de vôlei de areia (duração, total de pontos/jogo, acertos de saque, erros de saque, aces, taxa de acertos do saque, taxa de aces/jogo, velocidade máxima do saque, acertos de ataque, ataques resultantes em ponto, erros de ataque, taxa de acerto de ataques, taxa de pontos conquistados com ataque, pontos de bloqueio, erros em geral, defesas). Agrupamos os dados para a análise descritiva e caracterização dos três grupos. Realizamos ANOVA de uma via seguida de teste post hoc adequado para comparar os eventuais efeitos dos turnos dos jogos. Essas análises foram realizadas com o programa SPSS (IBM). O nível de significância adotado foi p<0,05 e as variáveis foram apresentadas em média ± desvio-padrão. RESULTADOS: Entre as variáveis relacionadas ao ambiente dos jogos, todas apresentaram variação em função dos horários dos jogos (p<0,001). Dentre as variáveis de desempenho que refletem demandas ou componentes predominantemente físicos, apenas a velocidade máxima do saque apresentou um pico de rendimento durante os jogos da noite (Manhã: 69,39 ± 10,86; Tarde: 73,18 ± 10,16; Noite: 75,91 ± 10,12 km/h; p<0,05). Por sua vez, dentre as variáveis técnico-táticas, apenas o número de aces (Manhã: 5,35 ± 2,77; Tarde: 4,55 ± 2,24; Noite: 3,76 ± 2,65 aces/jogo; p<0,05) e a taxa de aces por jogo (Manhã: 5,47% ± 2,64; Tarde: 4,40% ± 2,20%; Noite: 3,76% ± 2,59; p<0,05) apresentaram variação em função do horário dos jogos, com os maiores valores sendo observados durante o turno da manhã. As demais variáveis não foram diretamente influenciadas pelo horário dos jogos (p>0,05). CONCLUSÃO: O ciclo circadiano, expresso por meio dos diferentes horários dos jogos, influenciou as ações técnico-táticas do vôlei de praia, sobretudo no momento de saque, única ação do voleibol em que uma ação prévia de companheiro ou adversário não influencia diretamente a tomada de decisão. (Financiamento: PIBIC/FAPEMIG/UNIMONTES)