Resumo

As desordens da postura e do movimento características à paralisia cerebral espástica são freqüentemente associadas a diversos fatores ligados à lesão no sistema nervoso central, entre eles a espasticidade muscular. A utilização da toxina botulínica tipo A nos membros inferiores para redução do tônus muscular em crianças com paralisia cerebral espástica, associada a diferentes abordagens terapêuticas, inclusive a fisioterapia, tem a finalidade de auxiliar na regularização da marcha por meio da melhora na propriocepção, controle motor seletivo e a força. Poucos estudos discutem sobre os efeitos da toxina botulínica nos aspectos funcionais e biomecânicos durante o ciclo de marcha. Este estudo objetivou investigar os efeitos da toxina botulínica tipo A na marcha de crianças com paralisia cerebral espástica. Participaram 22 sujeitos de ambos os sexos com paralisia cerebral espástica divididos em grupo experimental com 10 crianças (11±2 anos) que receberam toxina botulínica tipo A nos membros inferiores e grupo controle com 12 crianças (10±2 anos) que não receberam a toxina. As variáveis analisadas foram grau de resistência para movimentos passivos dos membros inferiores (Escala de Espasticidade Ashworth Modificada), função motora ampla nas dimensões D e E (GMFM), habilidades funcionais nas áreas de auto-cuidado, mobilidade e função social (PEDI), índice de coativação dos músculos reto femoral e semitendíneo e variáveis cinemáticas angulares e espaço-temporais do quadril e joelho no plano sagital. Todos os procedimentos de coleta de dados foram realizados duas vezes em ambos os grupos, com intervalo de 30 a 45 dias entre a 1ª e 2ª avaliação (para o grupo experimental, antes e entre 30-45 dias após a aplicação da toxina botulínica tipo A). Os dados foram analisados por meio da Análise de Variância Univariada e o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis e em caso de efeitos significativos procederam-se comparações múltiplas. O coeficiente de correlação de Spearmann foi usado para examinar a relação entre as variáveis e o tempo de atendimento fisioterapêutico no período do estudo. O nível de significância foi p<0,05. Com relação ao efeito da toxina botulínica tipo A nas variáveis analisadas, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das variáveis entre a 1ª e a 2ª avaliação. Constatou-se que quanto maior o tempo de atendimento fisioterapêutico realizado pela criança, maior comprimento da passada normalizado pela estatura e menor o índice de coativação muscular e o nível de função motora ampla nas dimensões D e E do GMFM. Pode ser concluído que a aplicação de toxina botulínica tipo A não demonstra efeito na marcha de crianças com paralisia cerebral espástica classificadas nos níveis I e II do GMFCS.