Resumo

O objetivo do presente estudo foi investigar os efeitos do treinamento físico e/ou do tratamento com sinvastatina no controle autonômico cardiovascular e em parâmetros metabólicos após a privação dos hormônios ovarianos. Foram utilizadas 36 fêmeas Wistar (200 a 230) divididas em 4 grupos: ooforectomizadas sedentárias (OS, n=8), ooforectomizadas treinadas (OT, n=10), ooforectomizadas sedentárias tratadas com sinvastatina (OSS, n=8) e ooforectomizadas treinadas e tratadas com sinvastatina (OTS, n=10). A ooforectomia foi realizada através remoção bilateral dos ovários. A sinvastatina foi administrada por gavagem (1mg/kg/d, 7dias, 8 semanas). Os grupos treinados foram submetidos a um programa de treinamento físico em esteira ergométrica (1 hora/dia, 5 dias/semana, 8 semanas). A concentração sanguínea de glicose e de triglicerídeos e o teste de resistência à insulina foram utilizados para avaliar o perfil metabólico. Ao final do protocolo, foi realizado o registro direto de pressão arterial (PA), a avaliação da sensibilidade barorreflexa, através das respostas de taquicardia (RT) e bradicardia (RB) reflexas a alterações de PA induzidas pela injeção de doses crescentes de nitroprussiato de sódio e fenilefrina, e a avaliação dos tônus vagal (TV) e simpático (TS), através (i.v.) do bloqueio vagal (atropina, 3mg/Kg) e simpático (propranolol, 4mg/Kg). Além disso, avaliou-se a modulação autonômica cardiovascular nos domínios do tempo e da frequência (análise espectral, FFT). Não houve diferença significante no peso corporal entre os grupos ao longo do protocolo. Os grupos OSS (5,14±0,5 g), OT (5,66±0,9 g) e OTS (4,85±0,2 g) apresentaram redução no peso do tecido adiposo branco abdominal, quando comparados ao grupo OS (8,17±0,9 g). O peso do músculo sóleos e dos ventrículos foi maior nos grupos treinados (OT e OTS) em relação aos grupos sedentários (OS e OSS), enquanto que o peso do fígado foi menor no grupo OSS em comparação aos demais grupos avaliados. Os valores de glicemia, dentro da faixa de normalidade, foram menores no grupo OTS quando comparado ao grupos OS ao final do protocolo. Os valores de triglicerídeos sanguíneos não foram diferentes ao longo do protocolo. Ambas abordagens terapêuticas, associadas ou não (grupos OSS: 5,4±0,3; OT: 5,8±0,3; e OTS: 5,1±0,4 mg/dl/%) apresentaram aumento do KITT (constante de decaimento da glicose) no teste de tolerância à insulina quando comparado ao grupo somente ooforectomizado OS (4,1±0,5 mg/dl/%). No teste de esforço final observou-se aumento da capacidade física somente no grupo OT (2,3±0,09 km/h) quando comparado aos grupos OS (1,8±0,09 km/h), OSS (1,6±0,1 km/h), OTS (1,8±0,1 km/h). A PA foi semelhante entre os 4 grupos estudados ao final do protocolo. As duas abordagens, farmacológica e não farmacológica, induziram bradicardia de repouso (OSS: 343±6, OT: 339±5 e OTS: 340±5 bpm) quando comparadas ao grupo somente ooforectomizado (OS: 361±6 bpm). A RB e a RT foram maiores nos grupos OSS (-1,86±0,1 e 3,30±0,2 bpm/mmHg), OT (-1,86±0,1 e 3,35±0,3 bpm/mmHg) e OTS (-18±0,1 e 3,15±0,2 bpm/mmHg) em relação as do grupo OS (-1,27±0,1 e 2,42±0,1 bpm/mmHg). Os grupos treinados (OT: 39±2 e OTS: 47±2 bpm) apresentaram maior TV quando comparados ao grupo OS (27±4 bpm), somado a isso, o grupo OTS adicionalmente apresentou TV em relação ao grupo OSS (32±2 bpm). O tratamento com sinvastatina ou o treinamento físico, associados (OTS: 63±9 bpm) ou não (OSS: 58±5 e OT: 60±6 bpm) induziram redução do TS quando comparados ao grupo sedentário ooforectomizado (OS: 81±5 bpm). A variância do intervalo de pulso foi maior nos grupos OSS (73,1±12 ms2), OT (71,1±5,9 ms2) e OTS (67,4±8,8 ms2) em relação ao grupo OS (39,3±4,2 ms2), no entanto, não foram observadas diferenças entre os grupos nas bandas de baixa e alta frequência do intervalo de pulso. A variância da banda de baixa frequência da PA sistólica estavam reduzidas nos grupos OSS (20,17±2,01 e 4,16±0,47 mmHg²), OT (23,23±5,77 e 5,83±0,60 mmHg²), OTS (18,79±1,73 e 5,45±0,51mmHg²), quando comparada ao grupo OS (41,04±6,51 e 9,09±0,87 mmHg²). A sensibilidade espontânea dos pressorreceptores, avaliada pelo índice alfa, foi maior nos grupos OSS (1,19±0,15 ms/mmHg), OT (1,02±0,11 ms/mmHg) e OTS (0,91±0,03 ms/mmHg) em comparação ao grupo OS (0,62±0,05 ms/mmHg). Concluindo, os resultados demonstram que as abordagens farmacológica, tratamento com sinvastatina, ou não farmacológica, treinamento físico, associadas ou não, induziram melhora no controle autonômico cardíaco e vascular independente da redução da PA e dos triglicerídeos sanguíneos. Além disto, evidenciou-se que associação do treinamento físico ao tratamento com sinvastatina, apesar de não proporcionar melhora na capacidade física, impediu a redução do peso do fígado (observado no grupo tratado com sinvastatina) e induziu aumento no peso muscular e ventricular e no tônus vagal cardíaco, além de diminuição da glicemia. Tais achados em conjunto sugerem que o tratamento crônico com sinvastatina possa induzir benefícios cardiovasculares e autonômicos que vão além da melhora no perfil lipídico, e que sua associação com uma vida fisicamente ativa possa trazer benefícios adicionais no manejo do risco cardiovascular em mulheres no climatério.

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