Resumo

As doenças cardiovasculares representam as maiores causas de morbi-mortalidade em indivíduos de ambos os sexos. As mulheres após a menopausa freqüentemente apresentam alterações no perfil lipídico, que tem sido associado ao aumento do risco cardiovascular verificado nesse período. Por outro lado, o treinamento físico tem sido reconhecido como um tratamento não farmacológico para doenças metabólicas e cardiovasculares. O objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos do treinamento físico sobre o controle autonômico cardiovascular e perfil oxidativo e nitrosativo de camundongos fêmeas controle (C57) e LDL Knockout submetidas à privação dos hormônios ovarianos. Foram utilizados camundongos fêmeas controle (C57) e Knockout para o receptor do colesterol LDL ooforectomizadas (retirada bilateral dos ovários) divididas em 4 grupos: controle ooforectomizado sedentário (COS, n=14), controle ooforectomizado treinado (COT, n=14), LDL Knockout sedentário (LOS, n=19) e LDL Knockout treinado (LOT, n=19). Uma semana após a retirada dos ovários os grupos treinados foram submetidos a um protocolo de treinamento físico aeróbio em esteira ergométrica, com intensidade moderada e duração progressiva (1h/dia; 5 dias/sem; 50-65% da velocidade máxima de corrida no teste de esforço) durante 4 semanas. As medidas dos parâmetros metabólicos de triglicerídeos e o colesterol total sanguíneo foram realizados após jejum de 4 horas no início e ao final do protocolo. O registro e o processamento dos sinais biológicos de pressão arterial (PA) e frequência cardíaca (FC) foram realizados nos animais acordados, através de um sistema de aquisição de dados (CODAS, 4KHz). A sensibilidade barorreflexa foi avaliada através das respostas taquicárdicas e bradicárdicas reflexas à diminuições ou aumentos da PA induzidos pela injeção de doses crescentes de nitroprussiato de sódio e fenilefrina, respectivamente. A modulação autonômica foi avaliada através da análise da variabilidade da frequência cardíaca e da pressão arterial sistólica nos domínios do tempo e da frequência (método da Transformada Rápida de Fourier, FFT). O perfil oxidativo foi verificado avaliando-se a lipoperoxidação, medido pela quimiluminescência (QL), e pelas medidas das atividades das enzimas antioxidantes superóxido dismutase (SOD) no tecido cardíaco. O perfil nitrosativo foi avaliado através da análise da concentração de nitrito e nitrato no tecido cardíaco. O peso corporal foi semelhante entre os 4 grupos estudados no início e ao final do protocolo. Os triglicerídeos sanguíneos foram semelhantes entre os grupos no início do protocolo, e ao final estavam aumentado nos grupos LDL Knockout em relação aos grupos controles e também em relação aos seus valores iniciais. A ooforectomia induziu aumento da concentração de colesterol total apenas nos grupos LDL Knockout e o treinamento físico reduziu o colesterol no grupo LOT (191 ± 22,3 mg/dL) em relação ao grupo LOS ( 250 ± 9,2 mg/dL). O protocolo de treinamento físico aplicado neste estudo foi eficaz, pois induziu aumento da capacidade física determinada pela maior velocidade atingida no teste de esforço pelos grupos treinados, e também se observou bradicardia de repouso nos grupos treinados (COT: 501 ± 18; LOT: 535 ± 14 bpm) quando comparados aos grupos sedentários (COS: 569 ± 16; LOS: 600 ± 14 bpm). Adicionalmente, os grupos treinados apresentaram valores reduzidos de PA média (COT: 106 ± 2,5; LOT: 101 ± 2,7 mmHg) em relação aos grupos sedentários (COS: 127 ± 4; LOS: 125 ± 2,8 mmHg). A sensibilidade barorreflexa se mostrou reduzida para a resposta taquicárdica nos grupos LDL Knockout em relação aos grupos controles. O treinamento físico induziu melhora na sensibilidade barorreflexa por aumentar a resposta bradicárdica nos grupos treinados (COT: -6,8 ± 1,4 e LOT: -4,24 ± 0,62 bpm/mmHg) em relação aos grupos sedentários (COS: -1,63 ± 0,04; LOS: -1,49 ± 0,15 bpm/mmHg), além de aumentar a resposta taquicárdica no grupo COT (3,97 ± 0,76 bpm/mmHg) em relação aos demais grupos (COS: 2,77 ± 0,28; LOS: 1,51 ± 0,17; LOT: 1,74 ± 0,22 bpm/mmHg). A variância do intervalo de pulso foi maior nos grupos COT (90 ± 25 ms2) e LOT (34 ± 7,93 ms2) em relação aos grupos sedentários (COS: 28 ± 14; LOS: 5 ± 1,45 ms2). A banda de baixa freqüência normalizada do intervalo de pulso (IP) estava reduzida no grupo LOS (7 ± 1,1 %) quando comparado aos outros grupos estudados (COS: 32 ± 10,7; LOS: 34,6 ± 4,25; LOT: 31,3 ± 3,2 %). Já a banda de alta frequência normalizada do IP estava maior no grupo LOT (52,6 ± 6,6 %) em relação aos grupos LOS (25,6 ± 5 %) e COS (29,9 ± 4 %) e se mostrou reduzida no grupo LOS em relação ao grupo COT (42,7 ± 4,2 %). Não houve diferença entre os grupos na variabilidade da pressão arterial sistólica. Foram obtidas correlações positivas entre o colesterol total e a pressão arterial média (r= 0,85) e a resposta bradicárdica (r= 0,9). Adicionalmente, obtivemos correlações negativas entre o colesterol total e a variância do IP (r= -0,7) e a banda de alta frequência (r= -0,75). O treinamento físico induziu melhora no perfil oxidativo evidenciado pela diminuição da QL nos grupos treinados (COT: 2198 ± 344; LOT: 2250 ± 524 cps/mg proteína) quando comparados aos sedentários (COS: 3411 ± 963; LOS: 3644 ± 531 cps/mg proteína) e por aumentar a atividade da enzima SOD (COT: 2,1 ± 0,1; LOT: 2,14 ± 0,11 U/mg proteína) em relação ao grupo COS (1,34 ± 0,2 U/mg proteína). O perfil nitrosativo demonstrou aumento da concentração de nitritos apenas no grupo LOT em relação aos demais grupos avaliados. Foram obtidas correlações positivas entre a atividade da enzima SOD e a concentração de nitrito (r=0,6) e a razão nitrito/nitrato (r=0,6). Concluindo, o treinamento físico induziu melhora no controle autonômico da circulação de camundongos LDL Knockout submetidas à privação dos hormônios ovarianos associado à redução do colesterol sanguíneo e também do estresse oxidativo. Dessa forma, nossos dados sugerem que o treinamento físico é uma importante abordagem não farmacológica na prevenção e/ou reabilitação de mulheres menopausadas com dislipidemia.

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