Resumo

Introdução. Para possibilitar a real compreensão dos efeitos da fadiga sobre o desempenho atlético faz-se necessário utilizar protocolos com ações específicas da prática esportiva. Objetivo. Investigar os efeitos da fadiga induzida por um protocolo específico para o futsal (futsal-specific intermittent shuttle-running protocol - FIRP) sobre a produção de torque, a coordenação intrasegmentar e indicadores técnicos (cinemáticos) da corrida durante sprints. Método. Inicialmente, 20 jogadores de futsal (16,74 ± 0,56 anos) realizaram o FIRP, constituído por dois blocos de 20 min de exercício separados por 10 min de intervalo. A fim de analisar a demanda fisiológica do protocolo, foram realizadas mensurações da frequência cardíaca (FC), das concentrações de lactato sanguíneo, além da medida da percepção subjetiva de esforço (PSE) após o exercício. Em um segundo momento, 21 jogadores de futsal (17,21 ± 1,04 anos) realizaram o FIRP, sendo que antes, ao meio (entre os blocos 1 e 2) e ao final do protocolo foram realizados sprints de 10 e 20 m e medidas de torque isocinético concêntrico e excêntrico dos músculos flexores (TFCON, TFEXC) e extensores (TECON, TEEXC) do joelho. Durante os sprints, o tempo foi cronometrado eletronicamente e um ciclo de passada da corrida foi filmado de modo bidimensional para análise de variáveis cinemáticas e da coordenação intrasegmentar da corrida, esta quantificada pelo método da fase relativa contínua (FRC). As variáveis foram comparadas entre as condições pré, meio e fim do protocolo por meio de uma ANOVA para medidas repetidas, com o post-hoc de Bonferroni. Foi considerada uma probabilidade de erro de até 5% (p≤0,05). Resultados. Os valores médios de FC (171,45 ± 11,62 bpm; 87,4 ± 5.85% da FC máxima), lactato sanguíneo (5,12 ± 0,85 mmol.L-1 ) e PSE (6,5 ± 0,8) obtidos durante o FIRP mostraram-se similares aos reportados na literatura durante partidas de futsal. O TFCON, TFEXC e TEEXC sofreram redução progressiva ao longo do FIRP, ou seja, as medidas da condição pré foram maiores que as centrais, sendo ambas maiores que as medidas finais. Já o TECON reduziu da condição pré para o meio, porém o valor deste último não diferiu do valor mensurado ao final do protocolo. Verificou-se que o ângulo em que ocorreu o pico de torque excêntrico dos flexores do joelho apresentou diferença entre as condições testadas. As razões convencional (FCON : ECON) e funcional de torque (FEXC : ECON) apresentaram redução ao final do FIRP comparado aos valores pré. Nos sprints de 10 m o desempenho reduziu apenas ao fim do protocolo, enquanto que nos 20 m reduções ao meio foram verificadas. Dentre as variáveis cinemáticas, verificou-se redução da frequência da passada e aumento da velocidade angular da perna livre, tanto nos sprints de 10 quanto de 20 m em decorrência do FIRP. Nos sprints de 20 m ainda foi observado aumento do ângulo da coxa no instante de impulsão e redução da velocidade angular da coxa ao final do FIRP. Não foram observadas alterações na FRC entre os segmentos coxa-tronco, pernacoxa e pé-perna durante o FIR. Conclusão. É possível concluir que o FIRP é capaz de simular as demandas do futsal, visto que as respostas fisiológicas foram similares às reportadas na literatura durante partidas de futsal. As ações do FIRP provocaram redução tempo-dependente do torque flexor e extensor do joelho, tanto nas ações concêntricas quanto excêntricas. O FIRP também provocou alterações na cinemática dos sprints, evidenciada principalmente na redução da frequência de passada, tanto nos sprints de 10 quanto de 20 m, o que parece ser uma das principais alterações na técnica da corrida decorrentes da fadiga das ações do futsal que contribuirão para a redução do desempenho nos sprints. Adicionalmente, as alterações na velocidade angular da perna e nas razões de torque indicaram aumento da predisposição para lesões na parte final de uma partida de futsal. Por último, a fadiga gerada no FIRP não foi capaz de causar alterações na coordenação do movimento.

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