Resumo

A tese que aqui se apresenta pretende apontar um deslocamento da compreensão de esporte no contemporâneo. Ancorada em algumas fraturas na ideia de esporte quando observada a expressão dessa prática no final do século XX e início do século XXI, o trabalho dialoga com o conceito de pós-modernidade, dando relevo a alguns temas que vêm sendo recorrentes ao discutir este conceito, a saber: gênero, sexualidade, consumo e cultura pop. Temos como hipótese que o esporte contemporâneo, largamente mediado pelas imagens, esgarça a compreensão instaurada na modernidade, ampliando tanto sua possibilidade de representação no cinema quanto o seu conceito. Tomamos o cinema como suporte para a essa discussão por considerar sua relação histórica com o esporte, com berço na modernidade. O estudo objetiva compreender qual a representação do esporte no cinema contemporâneo, fazendo um contraponto com a compreensão do esporte moderno. Atrelado a esse objetivo central, o trabalho também objetiva: a) Estabelecer nexos de proximidades e distanciamentos entre as representações cinematográficas do esporte na modernidade e no contemporâneo; b) Problematizar um novo conceito de esporte que contemple uma nova compressão. O corpus de análise desta pesquisa é composto por filmes produzidos nesta primeira década do século XXI e que são emblemáticos para pensar entrelaçamentos culturais a partir de enredos (temáticas) esportivos previamente selecionados e que se transmutaram em categorias do estudo por sua recorrência no campo das narrativas cinematográficas que tematizam o esporte, a saber: para discutir noções de gênero e sexualidade no esporte: Beautiful Boxer (2003), Million Dollar Baby (2004), Billy Elliot (2000) e The Iron Ladies (2000); para discutir as relações da cultura pop e do mercado com o esporte: Bend it like Beckham (2002), Goal! The Dream Begins (2005), Goal! 2: Living the Dream (2007), e Goal! 3: Taking on the World (2009). As argumentações presentes se dão a partir da apreciação e se darão pela interpretação de imagens (AUMONT, 1993) que interpela a significação primária ou natural (fato representado e nível expressivo) e a significação secundária ou convencional (atribuição de valor a partir de referência cultural). Percebe-se no estudo um gradativo afastamento da compreensão do esporte atrelado às categorias de burocratização, cientificação do treinamento, comparação objetiva, busca do record, entre outros, muito próprios do cenário moderno. Na leitura que se faz a partir das análises, torna-se clara a percepção de novas formas de aderir ao fenômeno esportivo pela valoração de referências sensitivas, lúdicas e de convívio partilhado da experiência corporal. Uma sensibilidade esportiva menos vinculada à lógica agonística e, por isso mesmo, mais devota à auto-gratificação e adesão aos desejos/prazeres. 

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