Resumo

O desporto possui uma linguagem própria, traduz-se numa forma de comunicação
simbólica, está investido dum profundo significado sócio-antropológico. A estética
do desporto radica, justamente, na sua dimensão antropológica e, algumas das suas
manifestações mais óbvias, emergem dum domínio que revela, intrinsecamente, a
humanidade do homem: a arte. A atracção dos escultores pela actividade física não
se reporta à relevância cultural que o desporto assumiu a partir do final do século
passado. O célebre discóbolo de Mirón, datado do século V a.C., constitui uma
referência fundamental que confirma o interesse com que, desde há muito, os artistas
olham o desporto. Da escultura de maiores dimensões, ao troféu, à medalha e até à
moeda, a produção escultórica nas últimas décadas, a nível nacional e internacional,
tem sido muito significativa. Parece, contudo, existir algum distanciamento (e, por
que não dizer, desconhecimento) deste domínio por parte da comunidade que se
insere no mundo do desporto. Mesmo os estudiosos da estética do desporto não
têm dedicado a sua reflexão a esta temática. Os objectivos do presente trabalho
consistem em mostrar de forma crítica alguma da obra escultórica produzida desde
a década de 80 do século XX e, evidenciar a importância desta matéria no domínio
do estudo da estética do desporto. Trata-se de uma revisão crítica da literatura,
circunscrita a um conjunto de obras contemporâneas de artistas portugueses e
estrangeiros. Procuram-se sinalizar tendências ao nível das temáticas desportivas
tratadas, do tipo de representação (figurativa e abstracta) e dos espaços que acolhem
as respectivas obras. Do conjunto de obras analisadas verificou-se uma grande
dispersão relativamente às modalidades desportivas representadas, o que parece
confirmar a ideia de que todos os desportos são possuidores de qualidades estéticas.
O corpo do desportista surgiu como o traço comum à totalidade das esculturas em
análise, evidenciando que, tal como na actividade desportiva, também para os artistas
o elemento matricial do corpus desportivo radica no corpo do atleta.A representação
figurativa mostrou-se predominante relativamente à representação abstracta. Para
além do museu, as imediações de recintos desportivos e os jardins urbanos traduziramse nos espaços públicos que mais acolhem a escultura desportiva, o que manifesta e
sublinha a relevância cultural do desporto na sociedade contemporânea.

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