Resumo

O currículo escolar é um território atravessado por segmentos binários, classes sociais, gêneros, gerações, espacialidades, mas implicado por uma função subjetiva, que nos interpela, acionando e modelizando intensidades e perceptos. Assim, o currículo comporta uma dimensão macropolítica, mas também micropolítica, e atua como artefato importante na produção de subjetividades, ainda mais considerando que as/os jovens o vivenciam em boa parte de seu tempo. No contexto da Educação Profissional Técnica e Tecnológica, jovens inseridas/os no Ensino Médio Integrado vivenciam o currículo experimentando uma dupla jornada de aulas (em período integral), tendo em média 17 disciplinas ao longo do ano. E é neste cenário que organizam seus tempos e buscam por tempo livre. As juventudes se relacionam com o tempo livre como uma forma de apropriar-se dos espaços, podendo redescobrir e ressignificar territórios, atribuindo-lhes usos imprevistos. É no tempo livre e no lazer que as/os jovens constroem suas próprias normas e expressões culturais, ritos, simbologias e modos de ser. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar os diálogos entre as experiências com lazer das/os jovens-estudantes no Ensino Médio Integrado do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) – Campus Ouro Branco e o currículo desta instituição. Para tanto, busquei traçar uma cartografia, potencializada pela observação participante e rodas de conversa. Neste exercício cartográfico, identifiquei quatro coletivos juvenis que se expressavam no contexto da escola e que transformavam a escola e a si próprios. Deste encontro, mapeei as transformações possíveis por estes coletivos e nestes coletivos, compreendendo estes como a morada das experiências com lazer, que dialogavam e movimentavam o currículo escolar. Com o suporte da análise de discurso com inspiração foucaultiana e dos agenciamentos coletivos de Deleuze, identifico as práticas de lazer dos coletivos e as conexões entre o currículo estudado e o lazer, potencializadas pela dimensão cultural. Entendendo as práticas de lazer, bem como o currículo, como textos culturais que produzem sentidos e significados sobre o mundo, que nos formam e nos constituem como sujeitos de determinados tipos, analiso duas linhas de fuga que se apresentam no plano de composição desta cartografia: as experiências com lazer atravessadas pelas artes, ressignificando corpos e espaços; e as apropriações identitárias performatizadas no espaço do lazer. O movimento destes fluxos culminaram para a tecitura de um Currículo-Lazer, que na efervescência de ressignificação do currículo escolar, possibilita aos coletivos que contem suas histórias, incorporem outros saberes, outras narrativas, produzam outros significados e estabeleçam novos problemas para a escola e para a vida. O Currículo-Lazer nos desafia a abrir as composições curriculares, a levá-lo a produzir suas próprias linhas de singularidade, sua própria cartografia, sua existência. A escola, como espaço público, é aquele que permite múltiplas experimentações, portanto, o espaço, por excelência, da criação, em que se exercitam formas diferentes de sociabilidade, subjetividade e ação. Por fim, essa cartografia não buscou dar respostas, mas identificar o que é experienciado pelas/os jovens no âmbito do lazer e deslocar nosso olhar para outras possibilidades de pensar e fazer a escola.

Acessar