Resumo

O presente trabalho traz para o centro do debate relações entre estética e esporte, entendendo o fenômeno esportivo como uma das experiências que mais proporciona prazer e beleza no contemporâneo. Perguntamos pelas representações estéticas no esporte, deslocando o olhar dos espectadores para os praticantes, numa tentativa de compreender a questão por um ângulo distinto daquele comumente encontrado na literatura, o da recepção, com ênfase sobre os espectadores e não sobre os artistas, se quisermos fazer uma clara alusão à arte. Para tal, lidamos com dados oriundos de uma pesquisa empírica realizada junto a uma equipe feminina de rúgbi sediada em uma cidade ao sul do Brasil, que conta com um conjunto de observações do cotidiano do time (como treinos, jogos, momentos de confraternização) e com 4 entrevistas semiestruturadas feitas com jogadoras com destacada performance, notadamente, com participação no selecionado nacional. A eleição desta modalidade ocorreu de forma exploratória, considerando que pouco ainda se conhece (e se discute) rúgbi no Brasil. Trabalhamos com a perspectiva de que o cotidiano de treinamento, bem como o momento de jogo materializado nas disputas, são tempos singulares de construção do que denominamos obra esportiva. No que concerne ao referencial teórico com o qual dialogamos, destacamos as análises de Gunter Gebauer (sobre as relações entre esporte e mimese) e Hans Ulrich Gumbrecht (no que diz respeito ao lugar privilegiado do esporte no âmbito da estética da presença). Somado a isso, buscamos também na Teoria Estética de Theodor W. Adorno conceitos que nos ajudam a mais bem compreender a obra esportiva, a partir de conceitos como matéria, material e forma, além de indicações sobre as relações entre mimese e técnica na construção da obra de arte. Os resultados indicam: 1) que os cuidados com o corpo compõem o quadro de preocupações das praticantes dessa modalidade, na medida em que este se coloca como matéria para a obra esportiva; 2) que os gestos técnicos da modalidade são fundamentais para a produção de forma, constituindo-se como material da obra; 3) que a forma de jogo preferida pelas jogadoras relaciona-se com o que chamam de jogo aberto, que é veloz, ofensivo e malandro; 4) que a composição da obra esportiva parece aproximar-se com a da obra de arte, na medida em que ambas conjugam espírito e natureza, técnica e mimese, na elaboração do belo.

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