Integra

Em julho de 1997 escrevi uma reportagem sobre a final dos 10 anos do Campeonato Brasileiro Intanto-Juvenil de Tênis. No dia seguinte, a foto que ilustrou a página do Correio Braziliense era a do brasiliense Raony Carvalho, deitado de bruços sobre a quadra, soluçando, depois da derrota (6/3 e 6/0) para o gaúcho Roberto Sirotski, campeão.

No dia seguinte, quando voltei às quadras da Academia de Tênis, local do campeonato, para mais um dia de reportagens, fui insultado por vários pais de jovens tenistas, crianças, na verdade, por “desrespeitar” o atleta com a foto publicada. Fui acusado, inclusive, de, com aquela imagem, poder causar o fim da carreira de Raony Carvalho. A discussão foi longe e se seguiu, nas páginas do jornal, inclusive.

O assunto vem a propósito da “Semana da Criança e Esporte”, oportunamente sugerido pelo amigo Laércio aqui no Centro Esportivo Virtual (CEV).

Num artigo que escrevi sobre o assunto, citei a pressão sofrida por Raony. Jogando em casa e com o barulhento apoio de seus coleguinhas de clube (Iate), dos pais e técnico, ele se sentiu na obrigação de vencer. Até porque, defendia a liderança nacional na categoria. Perder com tal favoritismo e diante dessa torcida seria a desmoralização. Raony, com apenas 10 anos, foi, na verdade, tratado com um experiente profissional das quadras e, assim, exigido por todos.  Mas, no final, a culpa foi do fotógrafo, Carlos Eduardo, deste humilde repórter, e do editor que ousou abrir a imagem na página, Paulo Rossi,meus queridos amigos do tempo em que existia uma mídia chamada “jornal”... onde se surgiam temas ótimos para o bom debate.

Em outra ocasião, eu cobria a final de uma brasiliense, também da categoria menor, que perdia um jogo decisivo. Sua mãe ousou me perguntar, o que ela e o marido poderiam fazer para que a filha evoluísse no tênis e não perdesse em finais de campeonato. “Sugiro que vocês fiquem em casa”, respondi. De fato, a presença dos pais à beira da quadra colocava pressão na tenista. Era visível o desconforto da garota a cada ponto que se ia. Ela olhava para os pais como se desculpando pelo investimento que faziam, sem que evoluísse no esporte.

Enfim, crianças, jogos e os rumos do profissionalismo. Até onde a competição ainda na infância interfere nos momentos que devem ser dedicados às atividades lúdicas? Porque os pais cobram tantos resultados de crianças? Esperança de ver um filho campeão e, quem sabe, milionário? Ou é frustração por não ter tido tal oportunidade e se aventurado na carreira de “sucesso” que, agora, querem impor aos menores? 

Esse tema é permanente nas discussões sobre “esporte e educação”. Principalmente porque estamos na segunda década do Século XXI e sequer temos rumos para a educação e para o esporte. Quanto mais para o trabalho conjugado dessas duas atividades.

O Mestre Aldemir Teles  (Dema) e tantos outros companheiros aqui do CEV são autoridades para tratar desse assunto que ouso provocar com reportagens de outrora.

Para finalizar:

Na mesma ocasião em que a foto de Raony provocou tanto alvoroço, escrevi sobre a falta de questionamento dos pais para um drama maior que passava batido. Enquanto os garotos desfilavam com equipamentos e roupas esportivas de grife nas quadras de um luxuoso clube de tênis, outros, da mesma idade, com roupas humildes e chinelos de dedo, estavam no fundo da quadra ganhando uns trocados como “catadores de bola”. Afinal, era aquilo trabalho infantil ou ação social, benemerência, consolação...? Como privá-los daquela oportunidade de ter algum ganho, mesmo diante de um jogo entre crianças, mas tratado com requintes profissionais?

Enfim, esse é outro bom tema para debate, quem sabe para 1º de Maio e com a participação dos especialistas desse privilegiado Centro Esportivo Virtual. O assunto está na mesa e abre espaço para psicólogos, advogados, educadores, jornalistas...