Resumo

Este trabalho constitui-se em um resgate do sentido da memória do Estádio Olímpico Monumental, localizado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, que foi o estádio oficial do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense de 1954 a 2013. Nesse último ano, iniciou um processo de demolição que se encontra em andamento. Por ser uma praça esportiva de grande repercussão cultural, assim como um patrimônio do futebol e possuir vínculo identitário de torcedores do Grêmio, justifica-se a presente pesquisa. O objetivo geral foi interpretar, analisar e buscar o sentido do Estádio Olímpico Monumental enquanto um “lugar de memória” - conceito desenvolvido pelo historiador francês Piere Nora - a partir das vozes de atores sociais que possuem um vínculo de pertencimento ao Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e ao próprio estádio. Para os objetivos específicos buscamos contribuir no registro da memória coletiva por meio da análise dos impactos que a demolição do Estádio Olímpico Monumental pode causar, já causam/causaram nas pessoas que fazem ou fizeram parte da história do estádio, especialmente àqueles que estão, de alguma forma, envolvidos com os desígnios e desmembramentos dos grandes acontecimentos ligados ao futebol. Aliados a Pierre Nora, constituem o aporte teórico desta investigação autores que corroboram os estudos da memória e identidade: Maurice Halbwachs, Joël Candau, Michel Pollak, Ecléa Bosi, Zygmunt Bauman; e autores que enquadram memórias do Estádio Olímpico Monumental a partir personagens que fizeram história naquele lugar, como Léo Gerchmann e Eduardo Bueno. A pesquisa tem caráter qualitativo de base etnográfica, utilizando-se das técnicas da história oral, uma vez que se caracteriza pela busca da compreensão dos sentidos narrados pelos vinte e dois entrevistados acerca de um patrimônio cultural concebido de forma particular e emotiva no imaginário desses atores sociais e recorre à descrição e interpretação dos dados em contexto natural em que o local de memória é caracterizado por ser um componente cultural presente na vida e experiências sociais do grupo envolvido. Além das entrevistas em profundidade que estimularam as narrativas dos atores sociais e, portanto, é o principal instrumento de coleta de dados, utilizamos como fontes empíricas um diário de campo do pesquisador, matérias jornalísticas e documentos oficiais do clube. Para o processo de análise, elencamos sete categorias de análise, escolhidas a posteriori. São elas: “O Estádio Olímpico como patrimônio”; “Memória e identidade: a noção de pertencimento”; “Os jogos monumentais no Estádio Olímpico”; “A personificação do lugar”; “O estádio como lugar de memória”; “Diversidade e gênero no campo e nas arquibancada” e “Da catarse coletiva ao drama da demolição”. Ao final do estudo, podemos considerar que as pessoas que têm relação de pertencimento com o Estádio Olímpico, ao mesmo tempo em que sofrem com a perda de uma estrutura física que remete a um lugar de memória com grande significado para construção de sua identidade e vínculos afetivos, alçam o Estádio Olímpico Monumental a uma dimensão que transcende a matéria, personifica o lugar e fortalece a caracterização de um lugar de memória que tem aura.

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