Resumo

: O presente trabalho tem como objetivo apresentar a reflexão metodológica desenvolvida em minha tese de doutoramento intitulada: “Entre narrativas, fragmentos e estilhas: construções de atletas brasileiros sobre os Jogos Olímpicos do México de 1968”, cujo intuito foi construir uma narrativa sobre os Jogos Olímpicos, a partir de estilhas das narrativas biográficas dos atletas brasileiros que participaram dessa edição dos Jogos. A proposta metodológica de estilhas narrativas se dá a partir dos fundamentos teóricos-metodológicos da pesquisa em história oral (MEIHY; HOLANDA, 2013; MEIHY; RIBEIRO, 2011; QUEIROZ, 1988), e também, dos conceitos de narrativas biográficas (RUBIO, 2014), fragmento biográfico e história oral de família (MEIHY; RIBEIRO, 2011). A primeira questão que caracteriza essa metodologia é a escolha de um tema em comum entre as histórias do grupo pesquisado. O tema é o ponto de intercessão entre as narrativas, ele indica onde o pesquisador encontrará os elementos para compor uma narrativa coletiva, que contemple a polifonia do grupo, entretanto, o ponto de intercessão caracteriza, em certa medida, a dimensão social das narrativas e se aproxima da ideia de uma memória coletiva do grupo (HALBWACHS, 2003). A partir da proposta das estilhas, foi possível construir uma narrativa coletiva dos atletas brasileiros, que estiveram nos Jogos Olímpicos de 1968 na Cidade do México. Com isso, é possível a construção de uma narrativa coletiva, que preserva a voz do narrador em primeira pessoa. Desse modo, episódios como a conquista da vaga, a derrota e a vitória, os conflitos e as condições do esporte de alto rendimento no Brasil da década de 1960, são escritas a partir da fala do protagonista, portanto, a história contada pelo atleta é a principal fonte de pesquisa, se não a única. A versão dos fatos contados é considerada como ‘verdade última’, mesmo que a apresentação das diversas versões se mostre, algumas vezes, opostas e conflituosas entre si. Essa forma de escrever a história rompe com o modelo linear, onisciente e onipresente, ou seja, a história é escrita a partir da singularidade da experiência de cada atleta. Sendo assim, a narrativa exige uma nova postura do leitor, que não deve ser passivo na leitura do texto. Nessa perspectiva, a tessitura entre as estilhas passa a ser trabalho do leitor, e é a partir dela que ele formará as imagens e suas impressões sobre a narrativa.