Resumo

Os principais mecanismos neurofisiológicos que determinam o desempenho em atividades físicas ou esportivas não são muito bem compreendidos. Essa falta de entendimento ocorre por ainda existir pouca tecnologia que possibilita estudar o cérebro humano in vivo. Nas últimas décadas, algumas técnicas de neuromodulação têm sido melhor desenvolvidas e, dentre elas, a estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) vem ganhando destaque por ser uma técnica de fácil aplicação e que possibilita a realização de estudos bem controlados em humanos. Assim, o objetivo do presente estudo foi investigar os efeitos da ETCC sobre o desempenho físico e variáveis fisiológicas e perceptuais relacionadas à fadiga e tolerância ao exercício. Participaram do estudo 11 sujeitos fisicamente ativos com idade 26 ± 4 anos, peso 77 ± 15 kg e estatura 177 ± 3 cm. Inicialmente todos os sujeitos realizaram um teste incremental no ciclossimulador para determinar a potência pico. Em outras três visitas subsequentes ao laboratório, os sujeitos foram submetidos a uma das condições de estimulação (ETCC anódica, ETCC catódica ou ETCC placebo) de forma aleatória para verificar o possível efeito no teste de tempo até a exaustão a 80% da potência pico. A estimulação foi realizada antes de cada teste durante 13 min com intensidade da corrente de 2,0 mA e as sessões foram separadas por no mínimo 48h. Em cada sessão, logo após a estimulação e após o teste até a exaustão cada sujeito respondeu a um questionário de estado de humor. Adicionalmente, foram monitoradas durante os testes a atividade eletromiográfica do músculos vasto lateral e reto femoral, percepção subjetiva de esforço e frequência cardíaca. Os resultados mostraram que houve aumento (p<0,05) no tempo de tolerância ao exercício quando os indivíduos receberam a ETCC anódica (491 ± 100s) em comparação às situações catódica (443 ± 112s) e placebo (407 ± 69s). Além disso, não houve diferença estatisticamente significante entre a condição catódica e placebo. Esses resultados foram confirmados pelo tamanho do efeito (anódica x catódica = 0,47; anódica x placebo = 0,77; e catódica x placebo = 0,29 pequeno). Quando utilizada a inferência estatística baseada em magnitudes, a condição onde os indivíduos receberam estimulação anódica apresentou ser muito provavelmente positiva quando comparada a condição catódica e placebo. Porém, quando analisada, a condição catódica provou ter uma probabilidade possivelmente positiva comparada com a condição placebo. Não foram encontradas diferenças significantes para as variáveis fisiológicas e perceptuais entre as três condições experimentais. Assim, pode-se concluir que a ETCC anódica aumenta a tolerância ao exercício e pode ser utilizada como uma importante ferramenta para melhorar nosso entendimento dos mecanismos neurofisiológicos envolvidos no desempenho físico. 

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