Resumo

As quedas são responsáveis pela maior causa de lesões em idosos. Além disso, tratase do incidente mais freqüente que acomete essa população, aumentando de forma exponencial a fragilidade e muitas vezes levando os idosos à morte. Após perturbações inesperadas, a capacidade de readequar o controle postural está notadamente diminuída em idosos, o que leva ao aumento da propensão a quedas nessa população. A reduzida capacidade de reagir a perturbações inesperadas é atribuída a deficiências cumulativas relacionadas ao envelhecimento, tais como a redução da força muscular, diminuição da velocidade de contração muscular e modificações no tempo de reação e capacidade de processamento de informações. Estudos disponibilizam informações sobre uma grande quantidade de procedimentos que foram propostos a fim de minimizar os efeitos do envelhecimento e aumentar a capacidade de controle postural em idosos. Apesar da grande variedade de intervenções disponíveis, poucos estudos reconhecem de fato a razão pela qual a intervenção proposta é, em certos casos, bem ou mal sucedida. Recentemente os mecanismos responsáveis por manter a estabilidade dinâmica do corpo foram determinados em modelos de expressões matemáticas que identificavam as variáveis físicas que atuam no corpo durante a manutenção do equilíbrio postural. A partir de então, certos pesquisadores propõem que o treinamento desses mecanismos por meio da incorporação de movimentos específicos durante uma atividade dinâmica seria fundamental para melhorar as capacidades de controle postural frente a perturbações inesperadas, aumentando a possibilidade de sucesso em intervenções que busquem a prevenção de ocorrência das quedas. Portanto, esse estudo teve como objetivo geral verificar os efeitos de um treinamento realizado no mini trampolim sobre o controle postural de idosos. As hipóteses do presente estudo se baseiam no fato de que um treinamento realizado no mini trampolim, voltado especificamente para o treino dos mecanismos responsáveis pelo controle do equilíbrio postural dinâmico, deverão melhorar a capacidade de reação dos idosos durante um momento de instabilidade postural, prevenindo dessa forma as quedas. Na tentativa de verificar os efeitos do treinamento no mini trampolim sob diferentes enfoques que envolvem situações relacionadas ao controle postural, essa Tese de doutorado foi dividida em três estudos. O primeiro estudo identificou os efeitos do treinamento por 14 semanas no mini trampolim sobre a capacidade de reação e manutenção da estabilidade dos idosos em meio a uma queda súbita para frente. O segundo estudo avaliou a capacidade adaptativa dos idosos no desenvolvimento de reações de equilíbrio eficientes durante uma perturbação súbita e inesperada no teste de marcha, antes e após o período de 14 semanas de treinamento no mini trampolim. O terceiro estudo teve como objetivo avaliar se o treinamento no mini trampolim altera o pico de torque isométrico dos grupos musculares extensor do joelho e flexor plantar do tornozelo e também o desempenho no teste de deslocamento anterior máximo, verificando se existe correlação entre os resultados desses dois testes. Para atingir os objetivos propostos acima, vinte e dois sujeitos com 67±4 anos de idade participaram como voluntários do grupo experimental nesses estudos e doze sujeitos (68±3 anos de idade) participaram do grupo controle, apenas no primeiro estudo. Nos três estudos realizados, os sujeitos foram avaliados em dois momentos: a) previamente a realização do treinamento e b) após as 14 semanas de treinamento no mini trampolim. A avaliação realizada no primeiro e segundo estudos foi baseada na análise da variável conhecida como Margem de Estabilidade. Essa variável permite quantificar precisamente a situação de estabilidade de um corpo em condição dinâmica a partir da análise dos mecanismos responsáveis pela estabilidade, tais como a extrapolação do centro de massa, limites da base de suporte, projeção vertical do centro de massa no solo e velocidade horizontal do centro de massa. Após o treinamento no mini trampolim por 14 semanas (freqüência semanal = duas vezes por semana), os sujeitos treinados foram submetidos a avaliação final. No caso do grupo controle do primeiro experimento, este foi submetido a avaliação final idêntica a primeira após três meses sem qualquer participação em atividades física regulares. Os resultados do primeiro estudo evidenciam que os idosos possuem melhor performance no teste de queda para frente após serem submetidos ao treinamento no mini trampolim. A variável margem de estabilidade revelou que os sujeitos conseguiram restabelecer o controle do equilíbrio dinâmico durante a queda para frente a partir de maiores inclinações corporais (posturas mais instáveis) quando comparados a avaliação inicial e ao desempenho do grupo controle. Os resultados indicam também o aumento da velocidade de aumento da base de suporte, sugerindo que esse foi o mecanismo responsável pela melhora do desempenho no teste de queda para frente após o período de treinamento. No segundo estudo os resultados mostram que os idosos, após freqüentarem o treinamento, possuem maior capacidade de reação e adaptação a perturbações inesperadas. Os dados indicaram, por meio da melhora da variável margem de estabilidade, que a magnitude da capacidade de adaptação foi maior e que as reações mediadas por feedback proprioceptivo tornaram-se mais eficazes em conter a instabilidade postural. O estudo aponta que a capacidade de aumento da base de suporte durante a reação a uma perturbação inesperada foi o mecanismo preponderante responsável pela melhora no desempenho no teste após o treino por 14 semanas no mini trampolim. O terceiro estudo revelou que o treino no mini trampolim produziu aumento da capacidade de produção de torque flexor plantar do tornozelo durante uma contração isométrica voluntária máxima; no entanto, o mesmo não ocorreu para o grupo muscular extensor do joelho. Esse estudo evidenciou ainda a melhora na capacidade de deslocamento anterior do corpo por meio da análise do comportamento do centro de pressão em relação à base de suporte do sujeito. A partir da correlação existente entre os resultados de pico de torque e deslocamento anterior máximo, foi possível sugerir que o aumento do torque muscular flexor plantar de tornozelo gerado pelo treinamento foi o responsável pela melhora no desempenho do teste de deslocamento anterior, e que a força muscular é condição importante para o controle postural neste teste estático. Em resumo, os resultados dos estudos realizados nessa Tese evidenciaram, sob diferentes enfoques biomecânicos, que a intervenção realizada com idosos no mini trampolim por 14 semanas, baseada em exercícios que buscavam treinar os mecanismos responsáveis pela estabilidade dinâmica, são capazes de melhorar (1) as reações posturais durante o restabelecimento do equilíbrio dinâmico no teste de queda para frente, (2) as respostas posturais preditivas e reativas em meio a uma perturbação inesperada durante a marcha, (3) o desempenho no teste de controle postural estático de deslocamento anterior máximo e (4) e aumentar o pico de torque isométrico dos músculos flexores plantares do tornozelo. Assim pode-se concluir que o treinamento no mini trampolim e, principalmente, o treinamento dos mecanismos responsáveis pelo controle da estabilidade dinâmica, são ferramentas eficazes a serem utilizadas em atividades que pretendam reduzir o risco de quedas e aumentar a estabilidade postural de idosos.

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