Resumo

O associativismo torcedor no Brasil ganhou novo impulso, feição e características com a criação da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (ANATORG) em 2014. Sem dúvida, a atuação da Federação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro (FTORJ) exerceu um papel fundamental nesse processo engajando-se, desde 2008, no debate público acerca da legitimidade da participação de tais associações no espetáculo futebolístico. A modernização dos estádios, tendo em vista a realização dos megaeventos no Brasil (Copa do Mundo em 2014 e Olimpíadas em 2016), a legislação vigente caracterizada pelo controle, monitoramento e punição dos agrupamentos e a criminalização dos mesmos estão entre os fatores que estimularam a definição de uma agenda de reivindicações e o início da luta por direitos. A partir da mediação política exercida por lideranças de diferentes estados, tanto nas bases, junto aos torcedores, quanto nos espaços públicos, abertos especialmente, pelo Ministério do Esporte, se observa um esforço crescente de mobilização contra a elitização do futebol. Para serem reconhecidos como atores legítimos, nas discussões sobre políticas públicas de prevenção da violência no país, está em jogo, a capacidade das torcidas organizadas abstraírem as rivalidades, aliando-se em torno de interesses comuns. Nesse sentido, a ANATORG vem definindo estratégias de ação, dentre as quais, encontra-se a elaboração de projetos sociopedagógicos para redução dos conflitos, inspirando-se no Projeto Torcedor (Fanprojekt) desenvolvido na Alemanha a partir dos anos 80. Com base no pensamento de Marcel Mauss argumenta-se que as torcidas de futebol estão desafiadas na atualidade a substituir as trocas agonísticas e o ciclo de vinganças que têm pautado a sua história, pela aliança, pela dádiva, aprendendo a se opor sem se massacrar. Nesta apresentação pretende-se discutir as condições e fatores que tornaram possível a constituição de uma entidade nacional (ANATORG), assim como desafios e perspectivas que se desenham. A pesquisa tem como fundamentos metodológicos narrativas das lideranças envolvidas neste movimento coletivo, assim como, o acompanhamento e registro etnográfico das suas ações nas arenas públicas.