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A atividade física regular oferece benefícios importantes à saúde de crianças e adolescentes, incluindo efeitos benéficos para a saúde cardiovascular, metabólica e musculoesquelética, assim como para o desempenho escolar1. Os padrões de atividade física na juventude provavelmente se estendem à vida adulta2; portanto, o estabelecimento de um estilo de vida fisicamente ativo ainda na adolescência é essencial para a prevenção da obesidade e de doenças crônicas ao longo da vida adulta. Um estilo de vida fisicamente ativo pode incluir diferentes tipos de atividade física, tais como participação em esportes organizados ou transporte ativo para a escola. Atualmente, o estilo de vida ativo deve também evitar tempo excessivo sentado, que recentemente foi considerado como um perigo à saúde, independentemente da participação em atividades físicas3-5.

Alguns estudos com adultos mostraram que o tempo gasto em atividades sedentárias está associado não apenas à obesidade, mas também a uma saúde metabólica precária, independentemente da participação em atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa4. No mesmo cenário, tempo prolongado sentado sem interrupções pareceu ser prejudicial à saúde metabólica, independentemente do tempo total gasto em atividades sedentárias5. Em jovens, o tempo sentado esteve associado a transtornos musculoesqueléticos3, independentemente da participação em atividades físicas. Sentar parado em frente a telas de TV ou computador por horas é relativamente comum entre jovens6. Mesmo as crianças que participam de esportes organizados podem, depois das sessões de treinamento, ficar horas sentados em frente às telas6. A Internet e a TV oferecem entretenimento 24 horas por dia. O tempo gasto com meios de entretenimento tarde da noite pode diminuir o tempo de sono e também a qualidade do sono, levando à sensação de cansaço durante o dia e à falta de motivação para atividade física.

As recomendações atuais de atividade física para crianças em idade escolar dizem que todos os jovens devem se envolver em atividades físicas de intensidade pelo menos moderada por pelo menos 1 hora por dia1. No entanto, muitos jovens não atingem essas recomendações; estima-se que a proporção de jovens suficientemente ativos seja de um terço7, com grandes variações entre diferentes faixas etárias, gêneros e países. Ceschini et al.8 informaram que a prevalência de adolescentes insuficientemente ativos chegou a 62,5% entre estudantes de ensino médio na cidade de São Paulo (SP). A inatividade física foi muito mais prevalente em meninas do que em meninos (74 versus 50%, respectivamente)8. Esse tipo de pesquisa nacional fornece informações importantes sobre o nível de atividade física em diferentes grupos populacionais. Ceschini et al.8 utilizaram o Questionário Internacional de Atividade Física (International Physical Activity Questionnaire, IPAQ) em seu estudo, permitindo também comparações internacionais. No entanto, além das pesquisas baseadas em questionários, precisamos de um monitoramento objetivo da atividade física. Estudos utilizando medidas diretas de atividade, como acelerômetros, têm sugerido estimativas mais altas para a proporção de jovens adequadamente ativos9.

O recente aumento da obesidade entre jovens tem sido atribuído ao excesso de tempo gasto em frente a telas de TV e computador. De acordo com a recomendação da Academia Americana de Pediatria10, a atividade de ver TV deveria ser limitada a 2 horas por dia em jovens, para evitar efeitos negativos no peso corporal e em outros desfechos de saúde. Algumas recomendações nacionais de atividade física para crianças em idade escolar também mencionam diretrizes para o tempo gasto em atividades sedentárias. Na Finlândia, as recomendações nacionais para jovens11 dizem que períodos contínuos na posição sentada por mais de 2 horas devem ser evitados, e que o tempo diante de meios de entretenimento deveria ser limitado a 2 horas por dia. O painel que criou essas diretrizes de atividade física11 quis fornecer também recomendações sobre tempo diante de telas, a fim de motivar pais e outras pessoas importantes na vida dos jovens a discutirem o tempo excessivo gasto diante das telas e a restringirem esse tempo se necessário. Para a pediatria, seria importante prestar atenção tanto à participação de crianças em atividades físicas quanto ao tempo que gastam em frente a telas. No entanto, novas pesquisas são necessárias sobre a associação dose-resposta entre comportamentos sedentários e desfechos de saúde para definir com mais precisão qual o nível de segurança para diferentes ocupações sedentárias.

Também precisamos de informações sobre prevalência, tendências e correlatos de atividade física e comportamentos sedentários. Esses estudos e pesquisas devem incluir medidas precisas e objetivas desses comportamentos, tais como o uso de acelerômetros combinados com diários, durante dias de semana e também em finais de semana, em diferentes épocas do ano. É importante também identificar os grupos de risco inativos para direcionar as intervenções de atividade física de forma mais eficiente. Vários fatores afetam a atividade física dos jovens, como amigos, pais, irmãos, saúde, aptidão física, habilidades físicas e oportunidades ambientais12. Ceschini et al. informaram que a inatividade física em adolescentes brasileiros esteve associada a gênero feminino, uso de tabaco, consumo de álcool e maior tempo gasto assistindo TV8. Essa observação exige algumas atividades especiais dirigidas a meninas e a outros adolescentes que mantenham outros hábitos prejudiciais à saúde, a fim de melhorar seu nível de atividade física. Que tipo de intervenção de atividade física seria mais eficaz em adolescentes e deveria ser promovida? Com base em uma revisão de ensaios randomizados controlados envolvendo adolescentes13, parece que uma abordagem em vários níveis para promover a atividade física seria mais eficaz em adolescentes e deveria portanto ser promovida. Isso significa combinar intervenções escolares com o envolvimento familiar e da comunidade, assim como intervenções educacionais com mudanças políticas e ambientais13. Trata-se de um desafio a todos os atores que vivem ou trabalham com jovens, no sentido de colaborar e promover um estilo de vida fisicamente ativo na juventude.

 

Referências

1. Strong WB, Malina RM, Blimkie CJ, Daniels SR, Dishman RK, Gutin B, et al. Evidence based physical activity for school-age youth. J Pediatr. 2005;146:732-7 [pubmed/open access] [crossref]

2. Malina RM. Physical activity and fitness: pathways from childhood to adulthood. Am J Hum Biol. 2001;13:162-72. [pubmed/open access] [crossref]

3. Auvinen J, Tammelin T, Taimela S, Zitting P, Karppinen J. Neck and shoulder pains in relation to physical activity and sedentary activities in adolescence. Spine (Phila Pa 1976). 2007;32:1038-44. [pubmed/open access]

4. Healy GN, Wijndaele K, Dunstan DW, Shaw JE, Salmon J, Zimmet PZ, et al. Objectively measured sedentary time, physical activity, and metabolic risk. Diabetes Care. 2008;31:360-71.

5. Healy GN, Dunstan DW, Salmon J, Cerin E, Shaw JE, Zimmet PZ, et al. Breaks in sedentary time. Beneficial associations with metabolic risk. Diabetes Care. 2008;31:661-6. [pubmed/open access] [crossref]

6. Tammelin T, Ekelund U, Remes J, Näyhä S. Physical activity and sedentary behaviors among Finnish youth. Med Sci Sports Exerc. 2007;7:1067-74. [pubmed/open access] [crossref]

7. Roberts C, Tynjälä J, Komkov A. Physical activity. In: Currie C, Roberts C, Morgan A, et al., editors. Young people’s health in context. Health Behaviour in School-Aged Children (HBSC) Study: International Report from the 2001/2002 Survey. Geneva, Switzerland: World Health Organization; 2004. p. 90–7.

8. Ceschini FL, Andrade DR, Oliveira LC, Araújo Júnior JF, Matsudo VKR. Prevalence of physical inactivity and associated factors among high school students from state’s public schools. J Pediatr (Rio J). 2009;85:301-6.

9. Riddoch CJ, Bo Andersen L, Wedderkopp N, Harro M, Klasson-Heggebo L, Sardinha LB, et. Physical activity levels and patterns of 9- and 15-yr-old European children. Med Sci Sports Exerc. 2004;36:86-92. [pubmed/open access] [crossref]

10. American Academy of Paediatrics. Committee on Public Education American Academy of Paediatrics. Children, adolescents, and television. Pediatrics. 2001;107:423-6. [pubmed/open access]

11. Tammelin T, Karvinen J, editors. Recommendations for the physical activity of school-aged children. Finnish report, abstract in English. Ministry of Education and Young Finland association. Helsinki: Reprotalo Lauttasaari Oy; 2008. http://www.nuorisuomi.fi/files/ns2/Koulu_PDF/080129Liikuntasuositus-kirja(kevyt)_08.pdf Acesso: 1/7/2009

12. Sallis JF, Prochaska JJ, Taylor WC. A review of correlates of physical activity of children and adolescents. Med Sci Sports Exerc. 2000;32:963-75. [pubmed/open access] [crossref]

13. Van Sluisj EM, McMinn AM, Griffin SJ. Effectiveness of interventions to promote physical activity in children and adolescents: systematic review of controlled trials. BMJ. 2007;335:677-8. [pubmed/open access]