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Editorial - 22/1/2023

Uma declaração da ministrado Esporte, Ana Moser, sobre as competições com jogos eletrônicos—chamadas de esports—gerou controvérsia pouco usual na pasta.

Segundo a ex-jogadora de voleibol, o órgão que agora comanda
não investirá em tais atividades.
“O esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte”, afirmou Moser.
Teve início, então, um debate conceitual. A Lei Pelé,de1998,que dita normas e diretrizes para o esporte no Brasil, curiosamente não define de forma clara seu objeto.
Já o projeto de lei do Plano Nacionaldo Desporto, de 2022—que trata das verbas públicas para o setor e tramita no Congresso—delimita a prática como “toda forma de atividade predominantemente física” que vise recreação,promoção da saúde, alto rendimento esportivo ou entretenimento.
A assertiva de Moser coadunase como diploma, já que o caráter eminentemente físico exclui competições mentais como pôquer, xadrez e jogos eletrônicos. Mais importante, a promoção da saúde e o combate ao sedentarismosão diretrizes claras do ministério.Seria correto,por essa perspectiva,afirmar que esports não são esporte.
Críticos apontam preconceito contra uma prática competitiva, popular em todo o mundo,quegera renda e está inserida numa indústria bilionária. A ausência de investimento público deixaria o Brasil para trás nessesetor,e a falta de regulação prejudicaria atletas.
No entanto é justamente por alcançar sucesso global de audiência, apartir da injeção de vultuosos patrocínios das empresas desenvolvedoras dos jogos, que a atividade não necessita de aporte estatal.
Na verdade,a ação do poder público sobre o esporte eletrônico é vista com desconfiança por parte dos fãs e de especialistas na área.
Corre-se o risco de sufocaras competições com uma série de regulações burocráticas desnecessárias.
Para ter acesso aos principais programas federais de incentivo aos esportes,porexemplo, seria obrigatório criar uma confederação oficial que minaria a independência das empresas sobre seus produtos.
Ademais, por serem considerados como manifestações culturais, eventos competitivos já obtém incentivos estatais e abatimento de tributos até mais vantajosos do que os oferecidos à área esportiva.
Uma gestão pública racional deve evitar excessos regulatórios e alocar recursos em setores que enfrentammais dificuldades para florescerem no ambiente de mercado - o que não é o caso dos esports.