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RESUMO

As atividades de aventura são consideradas uma das vertentes do lazer, presentes muitas vezes nos conteúdos turísticos e físico-esportivos que levam o praticante a sensações de vertigem, adrenalina e perda momentânea de autocontrole. Sensações essas que desde a década de 1980 estão levando cada vez mais pessoas a praticar tais atividades em seu tempo disponível. Dentre os profissionais que atuam com as atividades de aventura estão professores de educação física, turismólogos, animadores socioculturais, recreadores entre outros. Porém, nos intriga a questão: Qual a formação técnica em termos de conteúdo específico e no âmbito dos estudos do lazer têm os profissionais que atuam com atividades de aventura para trabalhar na área? O objetivo deste trabalho foi caracterizar os instrutores de atividades de aventura da cidade de Socorro, de acordo com sua formação profissional. Como procedimento metodológico foram utilizadas a pesquisa bibliográfica com consulta as bibliotecas da USP, UNICAMP e UNIMEP e no banco de teses da CAPES, nos últimos cinco anos, sobre as palavras-chave “atividades de aventura”, “lazer” e “formação profissional” e também a pesquisa de campo com aplicação de questionário semiestruturado com questões abertas e fechadas aos profissionais que lidam diretamente com o público. Os profissionais que trabalham com atividades de aventura na cidade de Socorro têm em sua maioria formação universitária nos mais variados cursos, o que nos mostra que a formação universitária é desejável, porém não é imprescindível para se trabalhar na área, sendo o curso de educação física o mais citado entre os participantes.

Introdução

Com o crescimento das práticas de aventura, sejam como esportes ou turismo, é crescente o número de pessoas que estão sendo contratadas para trabalhar com tais atividades com um contato direto com o público em empresas, hotéis e acampamentos.

Alguns desses profissionais estão se especializando em cursos de formação específica ou buscando uma formação desejável, porém não imprescindível (Pina, 2005), em cursos superiores de Turismo ou Educação Física, nas quais foram inseridas diversas disciplinas relacionadas as práticas de aventura nos últimos anos. Como alternativa aos que possuem cursos de graduação em outras áreas, há cursos de extensão e especialização em esportes e atividades de aventura.

Sabe-se que as atividades de aventura são uma vertente da área de lazer e isso faz com que esses profissionais deixem de ser meros acompanhantes e passem a intervir de forma construtiva e responsável nestas atividades (FREIRE, 2006).

Terezani (2010) relata que, em razão da proliferação das atividades de aventura, tornase fundamental compreendermos os conteúdos referentes ao lazer, as principais características 77 do ambiente lúdico, e ainda estabelecermos a relação entre os animadores socioculturais 1 e as práticas corporais que promovem a radicalidade.

O tema geral deste trabalho é instigante e inovador no campo dos estudos do lazer, sobretudo hoje, quando há um mercado voltado para as atividades de aventura, tornando cada vez mais necessária uma formação que se proponha a lidar com as características deste setor. Portanto este estudo é importante para sabermos sobre a formação técnica específica dos profissionais, se estão ou não de acordo com as normas apresentadas e qual a necessidade dos instrutores e monitores de atividades de aventura em termos dessa formação e no âmbito do lazer. Seu principal objetivo foi caracterizar os instrutores de atividades de aventura da cidade de Socorro, de acordo com sua formação profissional, tanto na formação técnica quanto na relacionada aos estudos do lazer, mais especificamente o lazer na natureza ou outdoor recreation como citado por Parker (1978).

Desenvolvimento

Começamos este capítulo com uma breve conceituação dos termos que foram desenvolvidos como lazer, atividade de aventura e formação profissional.

Em seu sentido original, a palavra grega schole era “parar” ou “cessar” e, portanto, ter paz e silêncio. Posteriormente, passou a significar tempo disponível ou, especialmente, “tempo para si”. O lazer é uma condição ou estado – o estado de estar livre da necessidade de trabalho (PARKER, 1978, p. 26).

Parker cita ainda as funções do lazer propostas por Meyershon, sendo que a terceira função encaixa-se perfeitamente nas atividades de aventura: “Entretanto, os valores dominantes em nossa sociedade nos encorajam a buscar êxitos em todas as esferas da vida e a ser competentes no que fazemos – lazer como realização própria” (PARKER, 1978, p. 48).

Podemos citar também os aspectos educativos do lazer, considerado “veículo e objeto de educação” (MARCELLINO, 1997, p. 36), em virtude das semelhanças entre as atividades que envolvem o lazer e as atividades de aventura. Dessa forma, segundo Correa (2008), o ser humano, além de se divertir com atividades no âmbito do lazer no meio natural, pode, também, adquirir conhecimentos sobre a natureza e seus componentes (por exemplo, fauna e flora), tendo uma visão crítica e criativa do que está vivenciando.

Entretanto, quanto à atuação, os animadores socioculturais, trabalhadores das mais diversas áreas do lazer, devem apresentar uma dupla qualificação, exercendo sua competência, bem como sua consciência social, em pelo menos um setor cultural. Isto se torna relevante, uma vez que a maioria das pessoas tende a direcionar suas atividades de lazer a um campo restrito de interesse, geralmente por não vivenciar ou não conhecer outros interesses culturais (MARCELLINO, 1983).

Alguns autores, como Betrán (2003), Ferreira (1989), Uvinha (2001, 2005a, 2011) e Marinho (2005) discutem os conceitos de esportes radicais, esportes extremos, atividades físicas de aventura na natureza, esportes californianos, esportes ecológicos, esportes de ação, práticas corporais de aventura, esportes selvagens, entre outros. Utilizamos neste título os termos “atividades de aventura” e “esportes radicais” por se tratarem de sinônimos, sendo separados por uma razão mercadológica.. Apesar da nomenclatura, os termos são, muitas vezes, sinônimos, e serão utilizados no texto sem priorizarmos um ou outro.

Algumas entidades do turismo, como a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta) e o Ministério do Turismo (MTUR), junto com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), publicaram normas técnicas para 1 Termo sugerido por Dumazedier ,para o corpo de profissionais que trabalham na intervenção sobre o lazer. (2001, p. 50). 78 algumas atividades, como montanhismo, mergulho, caminhada, espeleoturismo, entre outras, com foco no que o monitor (condutor) deve seguir em sua formação. Estas normas estão em vigor desde 2005 e as empresas vêm, desde então, se adequando para cumpri-las.

Como o próprio nome já diz, são normas técnicas de conteúdos específicos para cada modalidade, não levando em consideração outros conteúdos presentes nas atividades de aventura, como o lazer, a educação ambiental etc.

Buscando um consenso entre os autores aqui estudados, utilizaremos o termo “atividades de aventura”, e não “esportes radicais”, por se tratarem de atividades físicas que buscam o inesperado, sob uma visão própria do lazer, e não como subconteúdo do lazer esportivo (MARCELLINO, 2002, p. 18) ou outro. Reforçando nossa posição, utilizaremos o termo designado pelos congressos da área: Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura e Congresso Internacional de Atividades de Aventura.

Em um entendimento mais aprofundado, Buckley e Uvinha trazem-nos definições da palavra “aventura” utilizada por dicionários de diferentes países como: “experiência inesperada ou emocionante”, “iniciativa ousada”, “atividade perigosa”, “uma experiência emocionante”, “um ato de resultado incerto, uma iniciativa arriscada”, “o encontro com riscos”, “uma realização ousada na qual há riscos e que conta com eventos imprevistos”. Todas estas definições, portanto, incluem elementos de emoção, incerteza e perigo (BUCKLEY; UVINHA, 2011, p. 7).

Nas atividades de aventura e no lazer a formação profissional é de extrema importância e não se trata apenas de estudos isolados, pois essa formação deve ser multidisciplinar (Isayama, 2010), e deve priorizar a formação inicial que é a base de todo o processo (Werneck, 2000).

Trataremos, então, da formação profissional utilizando estudos sobre as competências necessárias no âmbito do lazer, área em que, desde a década de 1990 e meados de 2000, Marcellino (2000) vem questionando a formação do profissional que nela atua. Este capítulo não visa responder a tais questionamentos, que são ainda atuais, mas sua discussão principal basear-se-á neles.

Para Marcellino, quando falamos da formação dos profissionais do lazer, podemos distinguir seis categorias possíveis: cursos livres de curta duração, formação de nível superior específica, inserção de habilitações em cursos de nível superior, pós-graduação stricto sensu diversificado com linhas de pesquisa específicas, pós-graduação lato sensu e MBA (2007, p.15).

Em relação às atividades de aventura, incluiríamos nas categorias propostas por Marcellino os cursos técnicos específicos de cada modalidade, assim como surgem os cursos técnicos em lazer, como o mesmo autor cita ao falar sobre a formação para a área do lazer:

Os processos de formação de profissionais para atuação na área do lazer vêm ganhando cada vez mais espaço no Brasil, em decorrência da demanda verificada no mercado, em franca expansão. Além da inclusão de disciplinas específicas em cursos de graduação, como educação física, turismo, hotelaria entre outros, já começam a surgir os primeiros cursos específicos de graduação e um número razoável de cursos técnicos. (2003, p. 9).

Nessa formação profissional no lazer deve haver um vínculo entre a universidade e os demais espaços sociais que compõem nossa realidade e cultura, de modo que o acesso à reflexão teórico-prática e aos saberes científicos, tecnológicos e/ou jurídicos construídos pela humanidade possa atingir seu propósito, que é desenvolver nossa capacidade de orientação em relação a diferentes objetivos e a problemas interdisciplinares, complexos e variados (WERNECK, 1998).

O profissional do lazer, denominado animador sociocultural – termo proposto por Dumazedier, como visto anteriormente –, tem diferentes formações, e isso é extremamente necessário, pela própria abrangência da área cultural. São professores de educação física, arteeducadores, profissionais de turismo, de hotelaria etc., que dominam o conteúdo cultural; têm vontade de dividir esse domínio com outras pessoas, devendo, para isso, possuir uma sólida cultura geral que lhes dê a possibilidade de perceber a intersecção/ligação de seu conteúdo de domínio com os demais; exercer cotidianamente a reflexão e a valoração próprias da ação do educador, o que os diferenciará dos “mercadores” da grande maioria da indústria cultural, e ter o compromisso político com a mudança da situação em que nos encontramos, atuando com base nessa perspectiva (MARCELLINO, 2003).

Moesch (2003) nos coloca que deve existir um profissional capaz de orientar as vivências sociais e ambientais em áreas públicas que se tornam turísticas quando organizadas para o acesso de visitantes. Porém, esse profissional não deve ter apenas a competência técnica e específica, e, sim, ser um sujeito construtor de sensibilidade, de criatividade, de desvelamento, de integração entre o humano, o cultural e o ambiental.

Relacionando as atividades de aventura à esses fatores, Uvinha afirma que:

A educação em ambientes outdoor tem sido mundialmente defendida como ferramenta pedagógica alternativa, com significativas contribuições ao aprendizado do aluno, na busca de uma sociedade transformadora e engajada com as atuais lutas de preservação e conservação ecológicas (UVINHA, 2009, p. 62).

Para que isso ocorra, no entanto, faz-se necessária uma capacitação, pois poderá, de certa forma, vir dos alunos graduados, sendo que para Marinho (2004) o profissional que trabalhará com as atividades na natureza deve saber as possibilidades que estas atividades oferecem como parte integrante dos conteúdos do ensino na graduação. Por exemplo, seria interessante entender e explicar, por meio da fisiologia do exercício, quais variáveis fisiológicas interferem em uma caminhada em uma trilha ou em uma corrida de orientação; quais músculos são mais exigidos nas remadas do rafting ou da canoagem por intermédio da eletromiografia, nos estudos relacionados à biomecânica do movimento; como as relações sociais se estabelecem entre escaladores, partindo do embasamento dos estudos do lazer e da recreação e da Sociologia.

Seguindo esta lógica, apresentada aos professores de educação física que trabalham os conteúdos da cultura corporal, sugeridos por Neira e Uvinha (2009), é necessário haver uma formação mais específica em tais atividades para que se possa melhor analisar a proposta de um passeio fora da escola e saber, ao menos, o funcionamento de um sistema de gestão de segurança, como explica Auricchio (2012), para o gerenciamento de risco adequado e maior segurança dos praticantes.

Auricchio (2009) e Uvinha (2009) tratam da formação do professor de educação física para trabalhar com esportes radicais, já que tais atividades envolvem risco de acidentes e, muitas vezes, necessitam de equipamentos especiais que devem ser manuseados por profissionais com treinamento.

Com base nisso, formulamos uma questão-problema para nosso estudo, pela qual buscamos saber qual a formação técnica em termos de conteúdo específico e no âmbito dos estudos do lazer têm os profissionais que atuam com atividades de aventura para trabalhar na área? 

Metodologia

Como procedimento metodológico, utilizamos o método exploratório, com pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo (Severino, 2010). Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa sob o protocolo nº 93/11.

A pesquisa bibliográfica foi efetuada junto aos sistemas de bibliotecas da Unimep, USP, Unicamp e no banco de teses da Capes nos últimos cinco anos, livros, artigos científicos em bases de dados e pesquisas on-line em anais de congressos nacionais e internacionais de Educação Física, atividade de aventura, turismo e lazer e pelas palavras-chave “atividades de aventura”, “lazer” e “formação profissional”.

Como instrumento de pesquisa foi aplicado questionário semiestruturado com questões abertas e fechadas aos profissionais que trabalham com atividades de aventura e lidam diretamente com o público nos locais propostos.

Os questionários foram aplicados na cidade de Socorro (SP), onde pensamos encontrar a maior parte dos profissionais ligados às atividades de aventura. Socorro é uma cidade turística, referência em atividades de aventuras terrestres e no atendimento a pessoas com deficiência, oferecendo atividades como o cascading, rafting, trilhas, arvorismo, tirolesa, entre outras, e foi escolhida por ser considerado um pólo nacional de atividades de aventura.

Os participantes da pesquisa foram os profissionais instrutores ou monitores que estavam atuando diretamente com o público nas atividades de aventura. Todos os participantes estavam cientes do caráter científico desta pesquisa, que não havia obrigatoriedade de participação e que ela não oferecia qualquer tipo de riscos. A amostra foi composta por 27 profissionais que responderam o questionário em seu local de trabalho.

Análise dos resultados

De acordo com os resultados estabelecidos entre os 27 questionários, 18 profissionais representam a modalidade do rafting e 11 de técnicas verticais. O tempo de atuação varia muito, porém, treze instrutores têm mais de cinco anos de experiência e nove tem entre um e cinco anos de experiência. Em relação a formação universitária metade das respostas foram favoráveis e a outra metade não considerava importante. Dos 13 que consideravam importante, seis condiram o curso de educação física como formação ideal. Todas as respostas foram favoráveis a importância do curso técnico de formação específica, e em relação às atividades que esse curso deveria conter, 16 respostas disseram ser primeiros socorros/resgate, seguido por rafting com cinco e técnicas verticais também com cinco, sendo as principais atividades da cidade, porém, chamou-nos a atenção atividades como paintball, línguas e fisiologia entre as respostas. Em relação às questões sobre quem poderia ministrar tais cursos, aparecem 17 respostas indicando profissionais da área com experiência e apenas três indicando profissionais da área acadêmica. Outro resultado que nos chamou a atenção foi que em 23 das respostas, eles se consideram profissionais do lazer e 25 consideram as atividades de aventura como conteúdo do lazer. Entre as respostas encontramos 13 que concluíram o ensino médio, nove que concluíram o ensino superior e três com pós-graduação latu senso. Para trabalhar na área, 21 fizeram cursos específicos nas modalidades e dez fizeram também cursos de primeiros socorros e resgate. Todas as respostas foram afirmativas sobre se o profissional de atividade de aventura deva ter conhecimentos específicos além dos técnicos, sendo 17 respostas para os conhecimentos sobre o corpo humano, lazer, educação ambiental e natureza.

Considerações Finais

Foram consenso, entre os sujeitos da pesquisa, que profissionais experientes são as pessoas mais capacitadas para ministrar cursos de formação específica para as atividades de aventura. Conforme constatado, este profissional muitas vezes não possui uma formação básica relacionada aos conteúdos por eles mesmos citados, como primeiros socorros e resgate, procedimentos de segurança, didática, psicologia, comunicação, lazer, meio ambiente, corpo humano e, até mesmo, educação ambiental. Ele tem consciência de que lhe falta conhecimento, mas entende que não precisa vir da faculdade, mas de outros cursos e os mais confiáveis são os fornecidos pelas associações, federações e confederações.

O professor de educação física aparece em muitas das respostas como pessoa capacitada a ministrar cursos de formação específica na área das atividades de aventura; é pessoa de confiança para esses profissionais. Mas, segundo nossa pesquisa bibliográfica, esse profissional não tem uma capacitação adequada para isso durante seu curso de licenciatura ou bacharelado e, somente com uma especialização na área, como uma pós-graduação em esportes de prancha ou uma pós-graduação em esportes e atividades de aventura, este profissional estará apto a realizar essa intervenção de forma satisfatória no que diz respeito a conteúdos técnicos específicos. Ainda assim, estará longe de obter o conhecimento de um profissional com dez ou vinte anos de experiência na área.

Por outro lado, concluímos, a partir de nossa pesquisa de campo, que o profissional experiente deve, sim, participar da formação, mas não ser o único responsável, pois quase a maioria dos sujeitos sabe que trabalha com lazer, mas não sabe realmente como trabalhar esse lazer e quais os conteúdos que devem trabalhar com seus clientes durante toda a atividade para que estes não apenas vivenciem a execução de uma atividade, mas adquiram uma aprendizagem.

Pina (1995) diz que o profissional do lazer não deve, necessariamente, ser formado em algum curso superior; essa formação é desejável, mas não imprescindível. Ainda no campo da formação profissional do lazer, Marcellino (2010) afirma que esse conteúdo deve ser multidisciplinar e também ministrado por profissionais de diferentes áreas do conhecimento.

Ainda de acordo com nossas pesquisas, podemos considerar que a formação dos profissionais de atividades de aventura não regulamentadas por federações ou confederações não é satisfatória quanto ao conteúdo técnico específico e à formação no âmbito do lazer; tanto os profissionais de atividades regulamentadas como os das não regulamentadas não têm conhecimento suficiente para atuar como animadores socioculturais, ou seja, como profissionais do lazer.

Em relação a esse quadro, consideramos que os cursos específicos devem ser elaborados por uma equipe multidisciplinar de profissionais, contendo o conhecimento teórico e prático que prepare, de forma ampla, o futuro profissional que vai atuar em atividades de aventura. Devem-se levar em conta as normas técnicas para o turismo de aventura e também a experiência nas atividades já regulamentadas. Nesse grupo, é imprescindível a participação de representantes das associações locais que, em sua maioria, são pessoas mais experientes e que podem contribuir, e muito, para a vivência na modalidade. Tais cursos devem ser financiados por programas públicos de capacitação profissional ou pelas próprias associações e federações, o que facilitaria o acesso dos envolvidos com um baixo custo de participação.

As pessoas que trabalham com atividades de aventura muitas vezes não conseguem dividir trabalho e lazer em seu cotidiano, já que trabalham para o lazer de outras pessoas. Esta afirmação, segundo nossa pesquisa, corrobora o que diz Parker (1978) ao afirmar que nas sociedades primitivas não havia períodos de lazer definidos; algumas atividades econômicas, como a caça ou a ida ao mercado, tinham características recreativas, assim como o canto ou a narração de histórias. Desconhecia-se um tempo específico para a recreação e o divertimento.

Em relação ao quadro apresentado, consideramos ser muito importante uma formação acadêmica para os profissionais de atividades de aventura, embora ela não seja valorizada pelos próprios profissionais investigados. A formação em Educação Física foi a mais indicada em virtude dos conteúdos abordados em sua grade, pois estes podem ser muito aproveitados na atuação na área. Porém, essa formação ainda deve ser complementada por cursos específicos nas modalidades em que se vai atuar e também em modalidades afins para que então se consiga trabalhar de forma a inter-relacionar as atividades e conhecimentos, o que trará um benefício maior para quem atua e para quem prática.

Não pretendemos exaurir o assunto, nem mesmo apresentar soluções para todas as inquietações levantadas. Porém, buscamos apresentar algumas reflexões, respostas e investigações acerca do proposto e segundo nossas possibilidades. Sabemos que se faz necessária a continuidade deste estudo em outros projetos para ampliar o enfoque aqui apresentado.

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