Resumo

Evidências apontam que na tarefa de subir degraus, o comportamento do andar é planejado aproximadamente três passos antes da abordagem do primeiro degrau e que ajustes desse plano motor podem ser necessários nos últimos passos antes dessa abordagem. Assim, a fase de aproximação para a subida de degraus pode requerer grande demanda cognitiva. Além dos comprometimentos motores, pacientes com doença de Parkinson (DP) apresentam déficits cognitivos, especialmente na atenção, memória e funções executivas. Desta forma, este estudo objetivou verificar os preditores cognitivos das variáveis espaciais e temporais do andar de pacientes com DP, na fase de aproximação para a subida de degraus. Participaram do estudo 27 pacientes com DP (15 homens e 12 mulheres), com média de idade de 69,5±8,7 anos, entre os estágios 1 a 3 na escala de Hoehn&Yahr. Os participantes andaram aproximadamente 4m, por um carpete com sensores de pressão (GAITRite® System), antes da subida de uma escada de 4 degraus. O comprimento, a largura, a velocidade e o tempo do suporte simples do passo foram analisados três passos antes e no último passo de aproximação antes da subida. As funções cognitivas avaliadas foram atenção (WAIS-III, subteste procurar símbolos), memória de trabalho (Números-WAIS-R) e funções executivas (Wisconsin Card Sorting Test). No momento de planejamento (três passos antes da abordagem do degrau), o teste de correlação de Pearson apontou correlação da duração do suporte simples com a flexibilidade mental (r= 0,43; p=0,024) e a atenção (r= -0,46; p=0,016) e da velocidade do passo com a atenção (r= 0,48; p=0,012). No momento de ajustes (um passo antes da abordagem do degrau) foi observada correção da atenção com a duração do suporte simples (r= -0,61; p=0,001) e a velocidade do passo (r= 0,42; p=0,028). Quando as variáveis relacionadas foram analisadas no modelo de regressão múltipla (Stpwise), observou-se que a atenção foi preditora da duração do suporte simples (passo de planejamento: R²=0,21; p=0,016; passo de ajuste: R²=0,37; p=0,001) e da velocidade do passo (passo de planejamento: R²=0,23; p=0,012; passo de ajuste: R²=0,18; p=0,028). Pode se concluir com esse estudo que a duração do suporte simples e a velocidade do passo são as variáveis da marcha mais relacionadas com as funções cognitivas avaliadas, especialmente a atenção e a flexibilidade mental. Entretanto, a atenção parece ser a única preditora dessas variáveis do andar, independente do momento analisado. Considerando os déficits de atenção característicos da DP, programas de intervenção que visem à melhora do andar e a redução de acidentes em ambientes com escadas deveriam trabalhar, além dos componentes motores, as funções cognitivas em especial a atenção.

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